sábado, 9 de fevereiro de 2013

Uma nota para os demônios.

Estava no tédio das gotas de chuva que se alargavam por toda minha cidade, trancado no meu quarto, com as luzes apagadas, e aquele monitor de sempre flutuando no meio de toda aquela escuridão, quando um dubstep começou a tocar, bem de longe, vindo da rua amarelada pela noite. Uma música a essa hora me incomodaria, porém desta vez não o fez. Me peguei tocando as batidas com o pé, ritmicamente, até me levantar e dispor-me ao vento da janela numero quatro, do prédio.
um grupo de adolescentes bebiam e conversavam ao meio da pracinha, banhados sob as caixas de som, excessivas, de um carro, poucos metros distante da entrada da construção.
Normalmente reclamaria.
Não o fiz.
Metzli viu, sua presa olhando-a pela janela.
Metzli estava pronta para mata-la.
Um deles, uma garota, dançava sozinha de olhos fechados, fora do coberto, meio afastada do grupo. Seus cabelos molhados e escuros pela chuva contínua, desciam colados por suas costas até quase as nádegas.
Não sei quanto tempo passei ali, admirando tal cena sem sentido.
Se o limbo fosse menos colorido, pareciam ali demônios ao invés de homens. 

... Sim... Eramos Demônios DEMÔNIOS.... Mitzli é um demonio.

Qual a diferença dos dois? Homens e Demônios?

Metzli responde que é a sede por sangue....
Na verdade Mitzli não acha que há tanta diferença...

Há apenas uma coisa que eu sei, sobre essa relação tão fantástica.
Os Demônios, Anjos caídos, podem ler coisas que nós homens não podemos, coisas que foram escritas no mais profundo do limbo.
Despertei do transe, e desviei o meu olhar ...DE MIM, Mitzli, da garota que dançava, estava já me sentindo tonto, caminhei de volta ao meu quarto, desliguei o monitor ainda ligado, e me joguei na minha cama.
Ela fez um rangido de madeira velha.
Quando me virei, senti o colchão levemente molhado, - Devo ter esquecido a janela aberta - fui apalpando para sentir de onde vinha tal evento desagradável. e no meio de todos aqueles lençóis senti uma mão.

A MINHA MÂO, a mão de Mitzli.
Mitzli segurou  o pulso dele  com toda a minha força.
Vou puxa-lo para a janela....

Uma mão me puxou para a janela.
Quando o reflexo foi rápido o suficiente para me fazer abrir os olhos, me vi caindo, caindo do sorrateiro quarto andar, até aquela pracinha tão colorida ao dia.

Senti o cheiro de sangue...
Metzli gosta de sangue...
me aproximei do corpo caído, e comecei a deliciar-me de seu liquido vital.
como era bom 
No limbo não tinha essas coisas...
No limbo os homens eram apenas sombras em sépia.
Não.... Eu não dividiria com o resto deles, consegui seduzi-lo e mata-lo por mim mesma...
Era a  presa da Mitzli, de mais ninguém.

Apostei comigo mesmo, que não vi aquela adolescente dançando no meio da chuva...
e junto ao meu ultimo suspiro, deixei que os anjos me levassem...
Ao menos assim pensava...



terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Limbo

- Carla! - Chamou minha amiga.
- Oi...- Respondi.
- O que achou dessa bolsa? - Perguntou me entregando uma vermelha, com alguns feches dourados.
Estávamos no shopping, era a unica coisa que tínhamos a fazer em um fim de semana dessa velha cidade quente.
- Bonita, mas não andaria com ela - Segurava, automaticamente, aquele objeto, mas meus pensamentos estavam a milhas daquele shopping.
- Pare de viajar vá! - Retrucou ela, puxando a bolsa da minha mão.
- Desculpa - Sai do transe.
- Tava pensando em que?
- Só pensando...
- Seeei - Ignorei os protestos repugnantes, e voltei a minha atenção para uma multidão de mulheres, que se aproximavam à sessão de roupas em que estávamos. De longe, eu avistei um garoto, sozinho, o que não era comum em lojas como essa, cabelos negros, longos para um homem, porém curtos para uma mulher, um corpo um tanto quanto magro; Seus olhos, perdidos no nada demonstravam uma certa frieza, porém também uma incrível superioridade, apesar de parece ter apenas doze ou treze anos, e o mais incrível, ele chorava sem expressão alguma.
- Já vai dar dez horas, e meu pai ainda não chegou. - Disse minha amiga. Estava tarde.
- Vamos descer - Respondi - É melhor, quando ele chegar já estaremos lá.
Ela parou o que estava fazendo e foi em caminho a saída da loja. Fui me esquivando por dentre a multidão, e quando menos esperava estávamos sentadas em um banco alto do estacionamento, balançando as pernas como se fossem duas crianças risonhas e divertidas.
- Obrigada pelo dia.
- Foi divertido - Respondi com um sorriso de fechar os olhos no rosto.
O farol alto de um carro, que subia pela rampa, a nossa frente, me cegou por alguns segundos.
- Deve ser ele -  Disse ela se levantando e caminhando até o carro, que parava aos poucos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Noite de Halloween

- Você acredita em fantasmas filho? - Disse o velho.
- Eles não existem - Respondeu o adolescente emburrado.
Lá estavam, um senhor, com mais de quarenta e dois anos, e seu filho no auge dos seus dezessete, ambos sentados em poltronas antigas, porém ainda assim confortáveis, postos à luz e ao calor de uma lareira bem acomodada e acesa, mais para o canto do aposento.
- Você tem certeza? - Perguntou o velho.
- Nunca vi um, oras - Respondeu-lhe veemente.
- Pois tenho que lhe contar uma historia... - E de fato o tinha:

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Apenas Gotas.

Estava no pátio, de uma praça desolada.
Caminhava por dentre a diversos arbustos, devidamente cortados, e paralelepípedos milimetricamente ordenados.
O sol, grandioso como sempre, repousava, desta vez timidamente, atrás da silhueta das nuvens, já , por nós, conhecidas.
Com as mãos nos bolsos e a coluna esticada revirei a cabeça para o alto, e me dei de cara com o céu, escurecido pelos feches fracos e avermelhados da luz do sol.

Aquelas grossas camadas de nuvens escuras e inatingíveis.

Parei de andar.
Quando uma gota, fria e pálida, desceu contra a minha testa, dissolveu-se, e escorreu ao meu rosto.
Fiquei ali, estável, admirando a beleza do tão ignorado chuvisco.
As gotas, cada vez mais frequentes, rasgavam os céus, sem pouca compaixão, descendo até o inalcançável dos chãos sem cor, tocando cada ser de cada alma.
Em apenas poucos minutos já me sentia encharcado ainda junto a escuridão das nuvens, assim como todos que não sonhavam estar ali, Nossos pés, descalços, perdidos em poças, escuras e enormes, de chuva, permaneciam desajeitados, sujeitos a tal viscosidade do desconforto.

As gotas cessaram, e as nuvens, das quais as tinham liberado com tanto veemência  esvoaçaram junto às antigas correntes de ar, dando espaço, lentamente, aos avermelhados raios de sol, que agora,  por sua vez, se intensificavam, dando, finalmente, cor ao ambiente antes pálido.

- Você fora o único que presenciou o convite a nossa vida, e o único que poderá tira-la de nós - Disse, ao céu, para meus pensamentos, enquanto percebia, através da nova luz, que o que as nuvens tinham chovido, não eram simples gotas de chuva, mas sim gotas avermelhadas e promiscuas, das quais, nós seres pensantes chamamos de sangue.

Sorri.