terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Limbo

- Carla! - Chamou minha amiga.
- Oi...- Respondi.
- O que achou dessa bolsa? - Perguntou me entregando uma vermelha, com alguns feches dourados.
Estávamos no shopping, era a unica coisa que tínhamos a fazer em um fim de semana dessa velha cidade quente.
- Bonita, mas não andaria com ela - Segurava, automaticamente, aquele objeto, mas meus pensamentos estavam a milhas daquele shopping.
- Pare de viajar vá! - Retrucou ela, puxando a bolsa da minha mão.
- Desculpa - Sai do transe.
- Tava pensando em que?
- Só pensando...
- Seeei - Ignorei os protestos repugnantes, e voltei a minha atenção para uma multidão de mulheres, que se aproximavam à sessão de roupas em que estávamos. De longe, eu avistei um garoto, sozinho, o que não era comum em lojas como essa, cabelos negros, longos para um homem, porém curtos para uma mulher, um corpo um tanto quanto magro; Seus olhos, perdidos no nada demonstravam uma certa frieza, porém também uma incrível superioridade, apesar de parece ter apenas doze ou treze anos, e o mais incrível, ele chorava sem expressão alguma.
- Já vai dar dez horas, e meu pai ainda não chegou. - Disse minha amiga. Estava tarde.
- Vamos descer - Respondi - É melhor, quando ele chegar já estaremos lá.
Ela parou o que estava fazendo e foi em caminho a saída da loja. Fui me esquivando por dentre a multidão, e quando menos esperava estávamos sentadas em um banco alto do estacionamento, balançando as pernas como se fossem duas crianças risonhas e divertidas.
- Obrigada pelo dia.
- Foi divertido - Respondi com um sorriso de fechar os olhos no rosto.
O farol alto de um carro, que subia pela rampa, a nossa frente, me cegou por alguns segundos.
- Deve ser ele -  Disse ela se levantando e caminhando até o carro, que parava aos poucos.

A porta do carona abriu e um homem robusto, usando um terno antigo se levantou.
Não era o pai dela.
Imediatamente, a minha amiga virou e voltou ao meu encontro com um sorriso tímido e sem graça pelo fora desconfortável.
- Senhorita... - chamou o homem.
Ela se voltou lentamente.
Quando uma arma sem cor foi sacada de trás do seu traje.
Do qual com uma faísca sem entusiasmo.
Uma bala sem som perfurou o meio de sua testa.
Me levantei. A minha boca aberta demonstrava um aflição descontrolada.
Minha amiga estava ajoelhada, com as pernas abertas, seus joelhos esfolados pelo asfalto e a sua cabeça baixa, com uma quantidade imensa de sangue escorrendo da mesma.
Senti vontade de vomitar, mas a adrenalina não me permitiu.
Em câmera lenta dei dois passos ao seu encontro;
Ela ainda permanecia com aquele mesmo sorriso sem graça de antes, mas o seus olhos, cobertos pelo liquido viscoso, estavam, totalmente arregalados, como se tivessem visto a sua vida em apenas um piscar. E, na verdade, eles viram sim. Meia duzia de segundos depois uma bala perfurou o meu peito, e o mundo, após vários flashes nostálgicos, sucumbiu em escuridão ao redor.

- Acorda - mandou uma voz fraca - Ele está vindo.
Me Levantei com um baque, toquei no meu peito e senti a camisa branca empapada.
- Sangue! - quase berrei.
E era.
Mas eu, estranhamente, não sentia dor.
Puxei a camisa, de baixo pra cima e apalpei o meu coração, nu, um pouco acima do sutiã, sem me importar com quem estava, ou não la.
Suspirei aliviada ao perceber que não tinha me machucado.
Levantei o rosto olhando para outro, um garoto, no auge dos seus dezenove ou vinte anos, olhava pra baixo poucos metros distante.
Coloquei a camisa de volta, quando percebi que ele não estava normal.
Gritei!
Uma enorme cicatriz em formação rasgava seu rosto em dois.
Ele, de cabeça baixa, escondia-se nas trevas, onde metade de seu corpo estava preso abaixo de alguns muitos escombros
Me levantei com um salto.
- Se você ficar ai, você vai ser levada - Palavras saíram como suspiros agonizantes de uma boca que não se mexia.
- Levada? - Consegui perguntar - Pra onde?
- Ninguém sabe - Olhei ao redor, e um mar de ruínas se estendiam por todo o horizonte, como se estivesse travada uma guerra infinita. Ao meu lado uma casa, apodrecida em escala de cinza, se desmantelava aos poucos.
Ele tossiu como se estivesse engasgado com alguma coisa.
- Onde estou?
- Você morreu - A sua voz estava cada vez pior - E se ficar ai parada, ele vai te levar.
- Ele? Quem? - Lágrimas desconfiadas se formavam no canto dos meus olhos.
- Deus.

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