segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Noite de Halloween

- Você acredita em fantasmas filho? - Disse o velho.
- Eles não existem - Respondeu o adolescente emburrado.
Lá estavam, um senhor, com mais de quarenta e dois anos, e seu filho no auge dos seus dezessete, ambos sentados em poltronas antigas, porém ainda assim confortáveis, postos à luz e ao calor de uma lareira bem acomodada e acesa, mais para o canto do aposento.
- Você tem certeza? - Perguntou o velho.
- Nunca vi um, oras - Respondeu-lhe veemente.
- Pois tenho que lhe contar uma historia... - E de fato o tinha:

<<Uma historia de um homem, que na época devia ter uns vinte cincou ou talvez até vinte seis anos. Mas bem... Quando era criança tinha o costume de, toda noite de halloween, sair, fantasiado, batendo de porta em porta, pedindo doces e assustando pessoas, como todas as crianças faziam na época, porém isso foi se perdendo, esse "espirito halloween" de antigamente, com o tempo, sumiu, as crianças só queriam saber de computadores, e maquinas tecnológicas, que não serviam nada mais nada menos do que para deixa-las subjugadas e viciadas às próprias. O homem, anualmente, comprava cestas e cestas de doces, para ter o que dar ás crianças, se elas viessem bater em sua porta, porém, desapontado, guardava todas as cestas por inteiro, muitas vezes sem poder doar uma sequer balinha de menta, até que chegou o tempo, que mais ninguém se dava a vontade de sair nas ruas para continuar com essa tão gloriosa tradição. Um certo ano ele simplesmente não saiu para comprar doces.  Talvez tenha se cansado de se preocupar com isso, talvez tenha tido outras coisas pra fazer, ou talvez tenha simplesmente se esquecido. Já tinha passado das nove horas da noite, e ele estava recolhendo as coisas pra ir tomar o descanso de sempre, quando três batidas sincronizadas foram adicionadas a porta da frente. "Quem deve ser essa hora da noite?" Perguntou para si mesmo, parou tudo o que estava fazendo, e foi de cara para aquela porta de madeira.
- Doces ou travessuras? - Disse uma criança de mais ou menos sete anos, fantasiado de vampiro com uma cesta vazia em mãos.
- Er... mas é... - Ele tinha ficado pasmo, como que logo no dia que ele não tinha comprado os doces...?
- Senhor? - insistiu.
- Ah, me desculpe, mas hoje eu estou sem doces.
- Doces ou travessuras? - Perguntou novamente a criança, quase com lágrimas sedentas no canto dos olhos.
- Eu já disse que eu não tenho - Retrucou o homem.
- Travessuras? - Mais uma vez, porém com um certo tom sarcástico.
O homem bateu a porta levemente, com um peso na consciência.
- Como pude não lembrar - Comentou para si mesmo. Com poucos passos se jogou no sofá, e lá permaneceu por alguns poucos minutos.
- Travessuras? - Disse aquela voz de agora a pouco.
O homem levanta com um susto, e da de cara com aquela mesma criança, fantasiada de vampiro.
Seus olhos se arregalam, sem saber o que esperar.
Ela sorri, com suas presas de borracha.
E então, a criança larga a cesta vazia, coloca as duas mãos por cima da cabeça do homem, que surpreendido, permanece imóvel.
Longos segundos se passam.
Até que, com um movimento borrado, ela puxa a cabeça da vitima e bruscamente morde um pouco mais acima de seu pescoço.
Aquelas presas não eram de borracha.
O sangue começa a escorrer, manchando tanto sua camisa quanto sua pele já pálida. O cheiro podre infesta o ambiente de porta e janelas fechadas.
A criança, com um puxão, arrancou metade do pescoço do cadáver, fazendo-o cair em prantos no chão, já úmido por aquele liquido vermelho que percorre as veias de todos nós.
Os Seus olhos demonstravam que havia sido morto violentamente, enquanto os do pequeno assassino, só transpareciam uma leve e serena frieza.
- Travessuras - Disse aquela mesma voz, porém mais tranquila desta vez.>>

- Isso não tem nada haver com fantasmas - Reclamou o adolescente.
- Na verdade tem - Retrucou o velho.
O fogo da lareira estava cada vez menor, fazendo com que seus últimos fôlegos em chamas criassem sombras dançantes de tudo ao seu redor.
- Artur! - Gritou sua mãe - Quantas vezes eu já te disse pra não ir dormir tão tarde!
Uma mulher entrou nos aposentos.
- Mãe...
- E ainda tá com a lareira acesa - Ela levantou-o, como se estivesse ignorando o contador de historias, e dirigiu-o até o seu quarto.

- Tava fazendo o que lá a essa hora? - Deu pra ouvir pela porta entreaberta do quarto.
- Meu pai tava me contando uma historia.
Um breve, porém doloroso silêncio se fez.
- Filho... O seu pai faleceu a dezessete anos atrás.

Um comentário:

  1. Pai gente boa esse, contou como morreu pro filho, UHSUHASUASHUHUhusahuSA, o meu até hoje não dá noticia, ass: Joe

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