segunda-feira, 2 de julho de 2012

Naur e Alagos.

Estavam Dois amigos caminhando por entre uma estrada de barro.
Largavam para trás duzias de pegadas recentes, que iam, ficando cada vez mais fracas e apagadas.
Andavam pelo infinito daquela terra amarronzada por mais do que infinitos anos. Duas silhuetas sob um céu negro não estrelado.
Quando uma, a menor, pergunta:
- Vamos continuar com isso pra sempre? - Uma voz meigamente feminina.
- Naur, não lhe ensinaram a ter paciência? - Respondeu-lhe Alagos, que andava à sua direita.
- Mas é que eu já me cansei - Disse ela abanando, com os braços, o nada - Vamos fazer algo mais divertido.
- Mas é que nos foi ordenado. - Tentou continuar.
- Vamos - chantageou ela ainda com uma voz meiga.
- Naur? - Indignou ele.
- Vai me dizer que gosta de andar eternamente? - Respondeu-lhe.
- Certo... Certo... Mas nada tão complexo...
- O que podemos fazer? - Naur sorria pela primeira vez em muito tempo.
- O que você quiser - Disse Alagos de forma elegante e convencida.
Ela parou de andar, fazendo com que ele, suspirando, também o fizesse.
- Eu quero algo lindo - Declarou elaEle pegou a sua mão, se abaixou puxando-a e com cuidado misturou-a junto a um pouco da terra e barro, ao puxar de volta, veio, junto, uma flor, cor purpura vibrante, com um polem dourado fechado ao centro, talvez a mais linda flor já vista - O que é isso? - Perguntou ela maravilhada.
- Uma flor - Respondeu ele.
- É linda - Seus olhos brilhavam.
- Podemos continuar? - Perguntou ele.
- Não Alagos - Insistiu Ela - Eu quero algo mais bonito - Ele, convencido, deu dois passos pra trás, se abaixou novamente, pegou alguns pouquíssimos grãos de terra, se levantou colocando a palma da mão estendida poucos centímetros a frente da boca e assoprou levemente. Parecendo que estava saindo de baixo da pele da sua mão, os grãos de terra se transformaram no par de olhos de um pássaro, que por sua vez, alçou voo, e foi planando até o ombro da garotinha - E isso o que é? - Perguntou Ela enquanto os seus olhos, cheios de lágrimas, admiravam o animal.
- Isso é um Pardal - Respondeu ele.
- É... É incrível...
Eles retomaram a doce caminhada antes do magnifico pássaro bater asas e se perder naquele horizonte indescritível.
- Alagos... - Insinuou a garotinha.
- Diga Naur.
- Porque estamos apenas nós dois aqui, se podemos criar vida?
- É muito arriscado - Declarou ele.
- A vida? - Perguntou ela.
- Naur... A vida é, de fato, perigosa. Se criarmos seres, como nós, ou até mesmo baseados em nós, com o tempo, eles se tornarão um câncer para este maravilhoso mundo, e o levarão à uma combustão profunda.
- Por que? - Eles continuavam andando, porém com passos mais leves e lentos.
- Porque, para que sobrevivam, teremos de dar a eles o poder da escolha, e com o tempo eles irão perceber que são capazes de tudo, como se fosse um bebê, malcriado, quando percebe que não tem limites. Então, em busca, cada um, de seu próprio bem, eles esquecerão o "proposito" do qual foram criados, e iniciarão confrontos e mais confrontos. Os mais fortes, e ou com mais conhecimento, irão subjugar os mais fracos, maltratando-os, torturando-os e até mesmo tirando-lhes a vida, apenas para satisfazerem os seus próprios desejos, ou até mesmo os seus próprios princípios. E com isso, com todos procurando, cada um, por sua própria felicidade surgirá um sentimento, o que nos é conhecido como ódio, junto a ele, aparecerão outros vários, como a vingança, desespero, tristeza, solidão. E no final, teremos de limpar o que restar deste mundo, e não sei como, retirar-lhe todo o sofrimento que o fora resguardado.
- Não podemos criar algo que os faça se conter, ou até mesmo se equilibrar, com relação a essa busca fatídica pela própria felicidade? - Indagou Naur ainda persistente, porém já um pouco assustada.
- Não imagino existir nada que possa conter esse ódio humano - Se pôs pensativo.

Mais alguns poucos passos em silêncio e Naur para de andar.
- Ei - Chama ela percebendo que Alagos, distraido, continuou a dar seus passos.
- Que foi? - Responde ele parando.
- Vem cá - Ela pede para que se aproxime com um gesto.
- Que foi Naur? - Continua ele, já um pouco preocupado, se aproximando da garota. Quando estão a apenas dois ou três passos de distância, Naur puxa-o para mais perto, e apoiando os seus delicados braços acima dos seus ombros, ela toca seus lábios, delicadamente, com os dela.
Ele, talvez pro instinto, a abraça carinhosamente, beijando-a por entre minusculas rajadas de vento, desce aos beijos por seu pescoço, sua nuca, e termina com os lábios encostados em sua testa. E ali ficaram, cada qual sentido o pulsar do coração do outro, por longo minutos... 

- O que foi isso? - Perguntou ele quebrando o leve silêncio ainda com os lábios no mesmo lugar.
- Acabamos de criar algo mais bonito do que uma flor, e mais lindo que um Pardal - Respondeu ela sorrido enquanto sentia a sua respiração.
- O que?
- O que equilibrará o ódio das nossas futuras criações.
- Dos humanos?
- Sim...

- E como o chamarás?

- O chamaremos de Amor.

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