quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nair e Alejandro


Agradecimentos a autora deste conto: Helena Treumann.
Em: Sem pé nem cabeça'

Estavam Dois amigos caminhando por entre uma estrada de pedra.
Largavam para trás duzias de marcas de suas pegadas que iam ficando cada vez mais fortes.
Andavam pelo infinito daquelas pedras acinzentadas por mais do que infinitos meses. Duas silhuetas sob um sol amarelo escaldante.
Quando uma, a menor, pergunta:
- Vamos continuar com isso pra sempre? - Uma voz friamente feminina.
- Nair, não lhe ensinaram a ter paciência? - Respondeu-lhe Alejandro, que andava à sua direita.
- Mas é que eu já cansei - Disse ela abanando, com os braços, o nada - Vamos fazer algo mais "divertido".
- Mas é que nos foi ordenado... - Tentou continuar.
- Vamos - chantageou ela já com uma voz perversa.
- Nair? - Indignou ele.
- Vai me dizer que gosta de andar eternamente? - Respondeu-lhe.
- Certo... Certo... Mas nada tão complexo...
- O que podemos fazer? - Nair sorria pela primeira vez em muito tempo, um riso maléfico.
- O que você quiser - Disse Alejandro de forma elegante e convencida.
Ela parou de andar, fazendo com que ele, suspirando, também o fizesse.
- Eu quero algo supremo - Declarou ela. Ele pegou a sua mão, se abaixou puxando-a e com cuidado misturou-a junto a um pouco da terra e barro, ao puxar de volta, veio, junto, uma serpente, cor purpura vibrante, com um olho dourado fechado ao centro, talvez a mais suprema serpente já vista.   - O que é isso? - Perguntou ela maravilhada.
- Uma serpente - Respondeu ele.

- É fantástica - Seus olhos brilhavam.
- Podemos continuar? - Perguntou ele.
- Não Alejandro - Insistiu Ela - Eu quero algo mais vibrante - Ele, convencido, deu dois passos pra trás, se abaixou novamente, pegou alguns pouquíssimos grãos de terra, se levantou colocando a palma da mão estendida poucos centímetros a frente da boca e assoprou levemente. Parecendo que estava saindo de baixo da pele da sua mão, os grãos de terra se transformaram no par de olhos de um gavião, que por sua vez, alçou voo, e foi planando até o ombro da garota - E isso o que é? - Perguntou Ela enquanto os seus olhos, cheios de lágrimas, admiravam o animal.
- Isso é uma Harpia - Respondeu ele.
- É... É incrível...
Eles retomaram a inquietante caminhada antes da magnifica ave bater asas e se perder naquele horizonte indescritível.
- Alejandro... - Insinuou a garota.
- Diga Nair.
- Porque estamos apenas nós dois aqui, se podemos criar vida?
- É muito arriscado - Declarou ele.
- A vida? - Perguntou ela.
- Nair... A vida é, de fato, perigosa. Se criarmos seres, como nós, ou até mesmo baseados em nós, com o tempo, eles se tornarão um câncer para este maravilhoso mundo, e o levarão à uma combustão profunda.
- Por que? - Eles continuavam andando, porém com passos mais intensos e eufóricos.
- Porque, para que sobrevivam, teremos de dar a eles o poder da escolha, e com o tempo eles irão perceber que são capazes de tudo, como se fosse um bebê, em intensa descoberta, quando percebe que não tem limites. Então, em busca, cada um, de seu próprio bem, eles esquecerão o "proposito" do qual foram criados, e iniciarão confortos e mais confortos. Os mais fortes, e ou com mais conhecimento, irão ajudar os mais fracos, acalentando-os, ensinando-os e até mesmo dando-lhes a vida, apenas para satisfazerem os seus desejos universais, ou até mesmo os seus próprios princípios. E com isso, com todos procurando, cada um, por sua felicidade surgirá um sentimento, o que nos é conhecido como amor, junto a ele, aparecerão outros vários, como a caridade, compaixão, carinho, alegria, plenitude. E no final, teremos que reabastecer esse mundo de seres zerados de pureza para que o processo seja feito quem sabe então de uma forma diferente.
- Não podemos criar algo que os faça se conter, ou até mesmo se equilibrar, com relação a essa busca fatídica pela própria felicidade e harmonia? - Indagou Nair ainda persistente, porém já um pouco revoltada.
- Não imagino existir nada que possa conter esse amor humano - Se pôs pensativo.

  
Mais alguns poucos passos em silêncio e Nair para de andar e solta um raio.
- Ei - Chama ela percebendo que Alejandro, distraído, continuou a dar seus passos.
- Que foi? - Responde ele parando.
- Vem cá - Ela manda que se aproxime com um gesto.
- Que foi Nair? - Continua ele, já um pouco preocupado, se aproximando da garota. Quando estão a apenas dois ou três passos de distância, Nair puxa-o para mais perto, e solta três murros e sua face seguidos de um olhar penetrante de ira.
Ele, talvez pro instinto, segura-lhe o cabelo e joga-a nas pedras fazendo-a se arranhar e rolar uns dois metros. Ela rola de volta e o dá uma rasteira fazendo-o cair ao seu lado. E ali ficam, cada qual sentido o pulsar e a respiração do outro, por longo minutos...

- O que foi isso? - Perguntou ele quebrando o longo silêncio ainda com as costas no mesmo lugar.
- Acabamos de criar algo mais supremo do que uma serpente, e mais forte do que uma Harpia - Respondeu ela sorrido com o canto da boca enquanto sentia o seu suor.
- O que?
- O que equilibrará o amor das nossas futuras criações.
- Dos humanos?
- Sim...



- E como o chamarás?


  
- O chamaremos de Ódio.


Paródia de : Naur e Alagos

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