domingo, 15 de janeiro de 2012

Uma Estrela


Normalmente as pessoas começam a se relacionar com uma apresentação formal. Então desculpem-me se eu não fizer isso agora, pois estou um pouco ocupado.

Contar-lhes-ei neste momento uma cena que aconteceu já faz um tempo. Uma cena que mudou a minha vida, e junto mudou a de algumas outras pessoas.
Sem essa parte da historia, não teria relevância nenhuma que estivesse contando tudo isso aqui para vocês caros Leitores.

Pois fora nesta cena onde tudo começou.



Preciso que, de inicio, tentes imaginar um viaduto, sim... Um viaduto largo, asfaltado, sem absolutamente nenhuma falha, nenhum buraco, nenhuma mancha, nada.
Ótimo.
Agora nesse mesmo viaduto coloque carros, Muitos carros, alguns poucos caminhões também e preencha com no mínimo umas duas pessoas por cada automóvel daquele.
Ah, e lembre que o Sol está formando um eixo de exatamente 45º à direita do viaduto, e a sombra do mesmo está inversamente proporcional, projetada nas duas ruas paralelas, que passam em baixo do viaduto.
Coloque carros também nas duas ruas, os da rua direita indo para um lado e os da esquerda indo para o outro... Certo?
Ah! E antes que me esqueça, coloque um engarrafamento terrível em um das ruas abaixo do viaduto... Tanto faz, qualquer uma que você escolher.

Ótimo.

Bem... agora que o cenário já está completamente pronto, dê vida aos bonecos imaginários que você acabou de criar, e observe por um curto período de tempo a movimentação deles, e o caos que você criou. Me diga que estás conseguindo escutar as buzinas do motoristas apressados.
Eu as escuto perfeitamente.

Bem... Agora a parte interessante.
Prestes a chegar ao viaduto você está vendo duas motos, uma preta onde eu, com uma camisa branca, jaqueta de couro e calças jeans escuras, estou pilotando e a outra azul, que é de Jan, um companheiro de infância meu. Ah... E claro, não se esqueça dos capacetes, nós dois estamos com eles. Prezamos por nossas vidas. É claro.
Você não preza pela sua?

Mas voltando, Estávamos cortando todos os carros aleatoriamente e com uma velocidade extraordinária. Eu amo fazer isso.
E o mais incrível, estávamos contando cada vez que fazíamos isso, a cada carro que ultrapassávamos somávamos 1 à nossa “lista”.
Como a adolescência é intrigante.

- Quantos? – Ele perguntou para mim.
- Desde que começamos já foram dezesseis – Balbuciei dentre o barulho infernal da cidade grande – E você, quantos?
- Só vinte três.
- Serio?
- Aham.
- Maldito! – Sorri.
Um carro vermelho se interpôs em nosso caminho, e Jan teve que desviar, cortando a nossa conversa. Voltei a minha atenção para a moto e acelerei acompanhando o seu ritmo.

Vou repetir: “Como a adolescência é intrigante.” Não é?

O reflexo de todos os outros entes passava como luz em meu visor do capacete, e durante isso senti o baque da mudança do asfalto da rodovia para o do viaduto. Sim... Eu já estava subindo naquele ambiente caótico que você acabou de criar.
E se soubesse do que estava prestes a acontecer, voltaria desesperadamente, e me trancaria com sete chaves em meu quarto.

Por favor, não me chamem de medroso.

Jan acelerou ainda mais, e possuído pelo espirito da competividade, saltei a roda da frente para cima esquivando dos carros que transitavam em minha frente. Minha visão começou a ficar embaçada.
Sabe quando você sabe que vai acontecer algo, mas ao mesmo tempo não sabe? Pois era exatamente isso que sentia naqueles minutos.

Um caminhão, vermelho e branco estava a uma velocidade mínima.

O motorista estava xingando um carro que tinha passado em sua frente.

Eu não vi nenhum dos dois.

E foi nessa hora, que os trovões deram inicio a uma chuva pesada e passageira. Como se fosse coisa de filme.

Por fim, de modo inoportuno me deparei com o fundo do caminhão.
Instintivamente apertei o freio enquanto virava a roda dianteira para a direita, uma tentativa falha de esquivar do caminhão. Mas ai está um problema que dentre a adrenalina eu não percebi: Em minha direita, se encontrava uma das bordas do viaduto.

Junto com as fagulhas de ferro quente, me vi ao ar.

A moto, suspensa sem apoio algum, deslizou sobre minhas pernas.

Lado a lado com apenas aquele poluído oxigênio, que tanto detestava.

Eu estava caindo.

***


Em alguma outra parte da cidade a chuva esfumaçava qualquer alma viva que andava pelas ruas.
Sim... As ruas estavam desertas.

Alguém em algum carro qualquer permanecia sentado, encolhido ao lado da janela do motorista, onde as gotas pesadas de água batiam com força no vidro provido de um barulho não rítmico.

A garota olhava para as gotas escorrendo pela superfície transparente, com olhos tomados pelo tédio. Onde a falta de emoção predominava.
Saria, o nome dela.
Não tenho certeza do sobrenome, mas por enquanto chamaremos ela somente assim.

Bem... Só queria dar-vos o conhecimento da existência.
Pois ela influenciará imensamente em nossa historia.

***

Uma luz.

Uma luz, forte o suficiente que conseguia, não sei como, atravessar as minhas pálpebras fechadas.

Tentava desesperadamente abrir os olhos.

Onde estava?

Minhas lembranças estavam confusas e alteradas.

Como?

Porque?
Qual a razão?

E então, dentre a lucidez e o sono viajei em um mundo que não pera permitido para homens.

Eu existo?
Sim

Você existe?




Porque?...



O que é a grandiosa existência?


Porque todos nós nos denominamos existenciais?

Porque pensamos.

Pensamos?



Meus olhos finalmente lograram largar a escuridão, e se puseram ao lado da luz que refletia em toda aquela paisagem. Outras lembranças traçavam seus caminhos de volta, meus globos oculares captavam toda aquela luz, diferenciada em varias cores, que invadiam amargamente a minha mente. As cores se tornaram nítidas logo acima de mim, impedindo a luz milagrosa do sol de clarear os meus olhos, diversos carros parados em um engarrafamento, que agora, por minha causa se tornara pior, buzinando, gritando, xingando e até alguns, os que estavam mais perto, estava olhando de um jeito curioso através dos vidros

Eu estava vivo.

Não sei como.

- Matt? – A silhueta de Jan se pós, acima do viaduto, à frente do sol, sua voz parecia preocupada.

Daremos uma pausa agora, amigos, chegou a hora de me apresentar, porque fui citado.
Eu me chamo Mattew, Mattew Couer.
Estou cursando computação, em uma universidade nacional, tinha vontade de fazer engenharia, porém não sou dedicado o suficiente.
Terminei o ensino médio com dezoito anos, nem muito cedo, nem muito tarde. Uma idade boa para o termino de uma etapa. Gosto exclusivamente de motos, sim, acho que já deu para perceber. E em geral tenho poucos amigos.
Se eu tenho mãe?
Claro, porém ela não está mais neste mundo, foi levada a muito tempo por seres de outra dimensão. E meu pai? Meu pai mora no interior com seu irmão mais novo e sua mulher.
Sou filho único, como já se pode notar.
E não direi as diversas coisas que gosto de fazer, pois não nos vem ao caso nesta narrativa.
Pois bem, desculpem-me novamente, mas agora já está feito, e estamos prontos para dar continuidade em nossa historia.
Obrigado.

***

O que antes tudo estava claro, agora se pôs na mais escura penumbra dos meus olhos. E uma sensação enjoativa, me fez voltar ao desespero da queda.

Bip...

Bip...

Bip...

Silenciosamente meus olhos que permaneciam fechados até agora se abriram, curiosamente buscando o canto da cama de seu apartamento.
Cortinas e mais cortinas se estendiam em fileira ao seu lado, todas de cor branca, tecidas com um tecido um pouco transparente.

Bip...

Bip...

Um som metálico e automatizado já estava quebrando a minha paciência.

Me virei, mas algo preso em meu braço não me permitia.

- Senhor... – Disse uma voz grossa por cima de mim – Mattew Couer, sentindo dor em alguma parte do corpo? – Fiz que sim com a cabeça.

- Na cabeça... – Respondi com uma voz fraca.

- O senhor sofreu um acidente de moto - Disse ele pausadamente - Teve muita sorte, muita gente que sofre com acidentes como este não vivem para contar história – Me arrepiei.

A porta, também branca, foi escancarada, por um grupo de médicos e enfermeiras, o doutor que estava em minha frente deu um pulo olhando pra trás.
Eles arrastavam uma mesa, com rodas, onde uma paciente se encontrava deitada.

- Senhor, ela vai pra emergência – Disse uma enfermeira.

- Coloquem ela na cama ao lado - O doutor ao meu lado largou os papéis que segurava encima de uma bancada e correu em direção a nova paciente.

- O que foi que aconteceu com ela?...

- Ela sofreu um... – Uma dor enorme de cabeça me jogou contra o colchão, junto a uma visão turva  perdi inexplicavelmente a consciência de um jeito aterrorizador.


***
- Matt? – Disse uma voz doce transpassando os meus sonhos.

- Oi – Respondi ainda com os olhos fechados.

- Tava dormindo? – Perguntou aquela voz.

- Não.

- Eu vi você roncando – escutei uma risadinha feminina.

- Eu não ronco.

- Você não está acordado quando está roncando.

Abri os olhos.

- Quem é você? – Perguntei intrigado por ela saber o meu nome.

- Saria.

- E como sabe meu nome?

- A sua perna engessada tem o seu nome, algum "Jan" assinou ai.

- Você consegue me ver? – Perguntei logo após estender a cabeça e franzir a testa para confirmar o que Saria tinha terminado de dizer.

- Só a sua perna – Olhei pro lado de onde vinha aquela, tão intrigante, voz, e podia ver apenas o seu pé, que tinha uma estrela tatuada na altura do calcanhar.

Um longo silêncio constrangedor se formou entre aquela cortina branca, que me impedia de ver o resto do seu corpo, até a porta se abrir com um baque.

- Senhorita Saria, como está a sua cabeça? – Disse uma voz grossa e segura ao lado dela.

- Estou bem, mas o meu ombro que está doendo muito.

- Posso dar uma olhada?

- Claro.


Outro silêncio.


- Isso vai doer um pouco – Escutei o som que um esparadrapo faz ao se desprender após ser colado, e ao mesmo tempo um gemido de dor, tímido porém miserável – Vou passar um pouco disto, e disto – Disse o doutor indo pegar algo em algumas prateleiras.
Depois do que pareceu ele cobrir novamente o machucado dela, se retirou da sala e o silêncio deu continuidade.

- Tudo bem com você? – Perguntei constrangido.

- Na verdade...  Não muito - Respondeu ela fraquejando com a voz.

- Melhoras - Declarei.

- Pra você também, já que estamos no hospital você também não deve estar passando muito bem – Sorri, sei lá, as vezes era bom ter alguém pra conversar, eu geralmente não falo com ninguém – Já que eu não posso te ver, me explique, como você é? - Continuou ela intrigante.

- Porque?

- Anda, eu quero saber com quem estou lidando.

- Cabelos castanhos, olhos da mesma cor, tenho uma barba rala, não uso aparelho, nem óculos. Hum...  Um pouco magro, meus pais nunca puderam pagar uma academia ou algo do tipo, Err... tenho vinte anos, altura eu não faço a mínima ideia,  pra comer eu gosto de massas em geral, adoro motos... E um defeito meu... Eu meio que tenho um nariz um pouco maior do que o normal – Ela riu – E você?

- Cabelos escuros, olhos iguais aos seus, as vezes uso óculos, sou magra, mas tenho um peso bom pra minha idade, bem... Tenho dezenove anos. Gosto de doces em geral, principalmente chocolate e prefiro andar de carro, tenho meio que um certo medo de motos.

- E um defeito seu?

- Defeito?

- É, eu falei um defeito meu.

- Eu tive um trauma quando era criança.

- Trauma?

- Me influenciou muito naquela época.

- Que tipo de trauma?

- E nunca contei isso para ninguém, e não sei porque estou contando pra você.

- Não precisa, se não quiser – Uma aperto em meu peito se tornou apenas superficialmente suportável.

- Um trauma com pessoas.

- Com pessoas?

- Todo tipo de pessoas – O voz dela transparecia preocupação, e um certo grau das memórias dolorosas que todos temos – O meu tio...
- Se não quiser me contar, não precisa – Disse tentando respeitar essa privacidade que todos precisamos ter.

- Eu preciso contar pra alguém...

- E porque pra mim?

- Você foi o único que se dispôs a me escutar.

Calei-me cordialmente, enquanto escutava aquelas palavras, tão ternas e ansiosas que me fazia estremecer a cada virgula, aquela senhorita, Saria, desdobrava cada frase em um jeito melancólico alucinante, fiquei, em algumas partes, mais preso em o seu modo de falar do que com a própria história. Não revelarei a identidade da mesma, pois fora tão bem guardada que me deu um aperto ao pensar em conta-la para vocês, espero que não se importem. 
Por favor, compreendam.
Ao terminar ela largou um suspiro final, como que se estivesse totalmente aliviada.
Sendo sincero, eu também pareci um pouco.

- Entendi – Disse quase mudo.

- Por isso que tenho medo das pessoas.

- Mas nem todos são assim.

- Nem todos são diferentes... – Outro largo silêncio. Parece que para haver uma troca de informações, precisa haver um pouco da falta dela também, assim como o dia e a noite – Obrigada – Terminou ela.

- Eu só fiz escutar – Ri baixo.

- Você não sabe o quanto me salvou agora – Deu pra escutar, não sei como, uma formação de um meio sorriso.

- O que você faz da vida? – Perguntei.

- Estudando pra conseguir entrar na universidade.

- Eu estou me formando em computação.

- Gosto de computação - Jurei ter escutado um meio sorriso.

- Não é bem o que queria, mas serve – Ri, ela retribuiu.

- Como você veio para aqui? – Perguntou Saria ingenuamente.

- Acidente de moto.

- Se machucou muito?

- Eu caí de um viaduto por cima de carros lá em baixo, o doutor disse que eu quase morria – Suspirei – Acho que tive sorte – Ela não respondeu – E você?

Um largo silêncio, que agora estava mais agonizante que nunca se estendeu por entre aquele ambiente fechado, do qual as pessoas morrem e nascem todos os cotidianos dias.

- Saria?! – Exclamei mais alto.

Ela murmurou algo.

- Eu não lembro!

- Você não lembra de como foi o seu acidente?

- Não lembro.

Me virei um pouco aborrecido para o outro lado, me ajeitando, e fechei os olhos em um tom pesado.

Um estado de calma, durável, me fez entrar em um mundo de sonhos tão rapidamente quanto um piscar de pálpebras, eu acabei cochilando.

***

Abri os olhos, e aquelas luzes que entravam pelas janelas abafadas deram um lugar a outras mais fracas e pálidas, enquanto grilos cantarolavam naquela mata que permanecia intacta ao redor do hospital.

- Saria? – Disse em um tom incrivelmente fraco, tinha acabado de acordar. Porém nenhuma resposta foi me redirecionada.

A porta foi aberta, e a enfermeira que passou por ela foi conferindo os pacientes de um a um.

- Boa noite Senhor? – Abri os olhos novamente me deparei com aquele rosto tranquilo da enfermeira.

- Boa – Respondi.

- Como está se sentindo?

- Melhor.

- Muito bem, se recupere que amanha você terá uma longa conversa com o doutor.

- Obrigado.

- De nada – Ela se pois ereta e continuou ao próximo paciente, que parecia estar em uma cama bastante longe da minha.

- Enfermeira!? – Chamei.

- Pois não – Respondeu ela voltando do meio do caminho com largos passos.

- A paciente  ao meu lado esta dormindo? – Perguntei de um jeito um tanto inocente, ela se pôs nervosa.

- Não há nenhuma paciente ao seu lado senhor.

- Mas eu estava falando com ela agorinha – Exclamei quase indignado.

- Me desculpe, mas ela não resistiu, faleceu anteontem, assim que deitou nesta cama – Meus olhos se arregalaram.

- Não pode ser, eu falei com ela agora.

- Me desculpe senhor – Foram as ultimas palavras daquela mulher que se mostrava assustada, antes de passar caminhando apressadamente para o próximo paciente.

- Saria? – Tentei por ultima vez.


***

Com o tempo saí do hospital, parcialmente recuperado. Depois de muitas criticas de Jon acabei aposentando a minha moto sem ressentimento algum . Por agora, estou meio livre, digo... sozinho, não precisava de tanto assim para viver. Continuei estudando pra passar na outra faculdade, tomando café, almoçando, jantando, as vezes virando noites de cara com os livros, uma vida, digamos, comum para a nossa realidade. Geralmente, quando tinha algum tempo livre eu me ausentava de todos os afazeres, e me batia na praça, em frente ao meu condomínio, um lugar, graças a deus, tranquilo e sereno, que tinha o poder de me fazer pensar acerca de mim mesmo, e melhor, acerca de toda uma sociedade absurda da qual estou incluso.
As vezes me lembro de momentos antigos, de situações da qual poderia evitar, de arrependimentos mal gastados, e de um sonho que tive, um belo sonho, que tive em cerca de dois ou três anos atrás, do qual eu conversava com uma estrela. E ela me contava que não era tão reluzente do jeito que parecia, ela me contava que também era humana.

Estava sentado, em um banco, na praça, viajando em milhões de pensamentos, com os cotovelos apoiados nos joelhos dobrados, e as mãos presas por dedos entrelaçados encima da minha nuca, quando dois pés descalços entraram no meio pequeno raio de visão, um daqueles pés possuía uma estrela tatuada.

Olhei pra cima espontaneamente e me deparei com um rosto, talvez branco, talvez negro, cabelos lisos e cacheados, olhos azuis e castanhos, a mulher mais linda que já vi, ela sorriu. E eu desnorteado devolvi o sorriso meio sem graça, porém agradável.

- As vezes eu fico pensando, porque você vem aqui todo dia, sozinho? – Uma voz já conhecida, mais do que seu rosto, porém menos do que seus pés.

- Porque não tem ninguém pra vir aqui comigo – Respondi a aquela voz, sorrindo.

-Porque nunca me chama? – Saria se sentou ao meu lado, naqueles bancos de madeira.

- Porque eu nunca mais te vi.

- Agora está me vendo, me chame – Ela sorriu calorosamente.

- Porque você não se junta a mim nesse rodear de pensamentos?

- Mulheres não gostam de perguntas.

- Eu insisto – Disse em um tom calmo, insistindo porém sem súplicas.

Ela sorriu.

- Certo, eu aceito... Agora, o que você está pensando?

- Pensando o porque de você não querer me responder como foi o seu acidente – Ela se entorpeceu por alguns segundos, pensativa, logo após voltou ao normal.

- Não quero te desagradar com isso.

- Eu te desagradei com a minha história, porque você não faz o mesmo?

- Porque eu gostei de você.

- Como foi o seu acidente? – Empurrei essas palavras que permaneciam presas em minha garganta por muito tempo.

- Você se arrependerá se souber.

- Se for a verdade, eu ficarei contento em saber.

- Acredite, a verdade penaliza muito mais do que sequer a mentira poderá algum dia - Suspirei.

- Eu prefiro viver de penas, do que de mentiras mal contadas.

- Eu... – Ela pestanejou hesitantemente depois de um logo e já velho conhecido silêncio.

- Você foi pro hospital porque uma moto, que alguma criança pilotava, caiu do viaduto pois estava brincando de besteiras inutilitárias com o amigo – Ela olhou pro chão desconfortável – Na verdade... você se foi pra muito mais distante, por culpa de uma brincadeira imbécil e sem sentido de alguém, você largou seus sonhos, sua família, seus afazeres... A sua vida de lado por culpa de um idiota que gosta de pilotar motos.

- Desculpa - Pronunciou Saria melancólica.

- Se for isso, preferiria viver na mentira até o dia depois da minha morte.

Era uma bela tarde de outono.

Um comentário:

  1. Parte 2:

    http://miserasirrealidades.blogspot.com.br/2012/07/duas-estrelas.html

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