segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Nobreza

Imaginem um garoto... Sim somente um garoto vestindo uma camisa escura, calças jeans desbotadas e um par de tênis... Agora coloquem nele um casaco, um casaco feito de um tecido grosso, tingido pela cor intermediaria do preto e do branco, um cinza escuro. Imaginem um capuz do mesmo casaco cobrindo a parte de cima do seu rosto. Alguns fios de cabelo estavam a mostra, e seus olhos claros só eram vistos por pessoas mais baixas que ele, pois apenas elas conseguiam olha-lo de baixo para cima, o capuz não conseguia cobrir essa parte.
bem... Agora junto a ele imaginem milhares de pessoas, andando de um lado para o outro, pessoas comuns, que não causará nenhuma interferência em nossa historia. Atrás dessas pessoas está estabelecida uma construção, onde preza a venda e compra de produtos comestíveis.

Pois enfim... Aquele garoto que vocês acabaram de imaginar, sou eu.


E porque estou encapuzado?

Porque quero passar despercebido por todas aquelas pessoas.

E porque o mercado está de plano de fundo?

Porque nesse exato momento estou entrando nele.

- Boa tarde senhora.
- Boa.
- Aqui vende aquela massa para bolinhos?
- Massa para bolinhos?
- Aquela que é só fritar e já tá pronta...
- Se é o que eu estou pensando, está em falta.
- Ah... Obrigado.

Agradeci, e continuei a andar pelo mercado fingindo procurar alguma mercadoria. E é verdade que estava procurando algo... porém esse algo não era uma mercadoria.
Não me chamem de mentiroso por favor.

Mesmo que eu de fato o seja.

Mesmo que eu trabalhe com aparências.

Ou até mesmo que eu crie apenas ilusões.

Eu só peço que não me chamem disto.

Porque eu tenho um motivo...

Um motivo que no final dessa historia vocês aplaudirão.

Enquanto segurava um pacote de macarrão pelo canto do olho vi alguém saindo de uma porta, uma porta azulada ao lado de duas maquinas refrigeradoras. Fui caminhando com passos que não produziam sequer uma onda de som, dentre as pessoas, e sem que ao menos elas percebessem abri a porta e a fechei atrás de mim.

Me encontrei em um aposento escuro, totalmente escuro, a não ser por uma fresta de luz que saía por baixo de onde estava a porta. Fui levantando os pés, e com o maior cuidado colocando-os mais a frente, pouco a pouco, fui caminhando lentamente, passo por passo. E com os braços estendidos me esbarrei na parede, com a palma das mãos abertas comecei a tatear a parede, encontrei... Algo parecido com uma maçaneta, puxei-a para o lado, e misteriosamente uma porta se abriu. De inicio eu não acreditei. Bem... ninguém que estivesse no meu lugar acreditaria, Eu me deparei com aquela mesmo mercado onde acabara de sair, as mesmas pessoas conversando, colocando mercadorias no carrinho, pagando contas, andando de um lado ao outro... Exatamente a mesma coisa.
Não nego que estava confuso, e um pouco assustado.
Fechei a porta antes que alguém conseguisse me ver. E voltei ao lugar escuro, parei para pensar um pouco. E com passos mais largos do que os da primeira vez caminhei em linha reta. Me deparei com uma porta... E temendo que acontecesse o que a minha mente estava pensando, empurrei sua maçaneta abrindo-a por completo. E como vocês leitores imaginaram a mesma cena se fincou bem em minha frente.
Como se fosse uma arte do acaso.

Já estava surtando... Se fossem vocês que estivessem aqui saberiam como eu estou me sentindo.

Voltei ao mercado e sutilmente peguei um pacote de macarrão, aquele mesmo que estava segurando pouco antes. Voltei à porta e entrei nela novamente. Parei de frente à escuridão novamente, respirei fundo, abri o pacote de macarrão e o despejei aos meus pés.

Obrigado leitor, por me chamar de estupido.

Fechei os olhos e fiz a mesma trajetória da que tinja feito já duas vezes.
Dessa vez fora diferente.
Um...
Dois...
Três...
Quatro...
Quatro passos necessários para que pisasse em algo, que ao contrario das outras vezes, fez um barulho absurdo.
 Eu tinha pisado nos macarrões.
Me agachei catando-os um por um
Quando resolvi reunir todos, ou quase todos, me virei para a escuridão de novo e andei somente dois passos, larguei os pedaços de macarrão cru ao chão novamente, e em vez de continuar andando em linha reta eu e virei 90 graus à direita, me deparei com outra porta...

Sim.. eu sabia o que estava fazendo.

E porque eu virei especificamente para a direita?
Pois como aquelas duas portas que entrei estavam uma de frente para a outra, e as duas levavam para o mesmo lugar, as duas portas (se houvessem)  nas paredes dos lados também levariam para o mesmo lugar uma da outra.

E quando a abri, uma escada se estendeu diante a mim, que vitorioso reprimia um sorriso. Subi degrau por degrau até me deparar com uma sala ampla... Magnifica, um par de sofás repousavam sorrateiramente bem no meio, moveis antigos se despejavam aletoriamente por todo o aposento, e fachos de luz entravam pelas janelas, atravessando as cortinas escuras e cheias de pó. E o mais incrível, que me deixava cada vez mais assustado, a sala era totalmente simétrica.
Dei um passo em direção a um dos sofás, porém escutei o rangido de dois passos pisando contra o chão de madeira antiga.
Estremeci.
Mais outro passo, e então percebi que tinha alguém do outro lado da sala.
E o mais louco, é que aquele garoto que vinha andando exatamente igual a mim... Tinha o meu corpo, o meu rosto, os meus olhos, o meu cabelo.
Aquele garoto era eu.
Sim, ele era exatamente igual a mim.
Depois de abstrair toda a informação daquela visão que estava tendo corri em direção a ele, ele fez o mesmo. Armei um soco, que iria acerta-lo bem na boa do estomago.  Quando já estava perto o suficiente larguei toda a minha força em um só golpe.
E então...
Senti uma dor agoniante no meio da barriga.
E com um baque caí bem de costas alguns metros daquele ser estranho.
Minha visão começou a ficar embasada.
E esperando a morte ali permaneci, alguns segundos... Alguns minutos...
A dor estava aos poucos se dissipando, e a visão agoniada do teto e de um lustre incrivelmente belo acima estava cada vez mais melhorando.
Medo...
Meus olhos desesperadamente sem ao menos se mexerem buscaram algo em volta, e tudo permanecia a mesma coisa . Tudo permanecia igual.
Levantei a minha cabeça com uma velocidade incrível, e uma tontura tomou posse de mim, somente por alguns segundos.
Segundos que duraram horas.
Quando me recuperei, vi que aquele mesmo garoto, idêntico a mim, estava sentado no chão, exatamente como eu estava.
Pulei para trás assustado, e ele fez o mesmo.
Então.. percebi que a coisa mais estranha do mundo se tornada mais estranha ainda.
Aquele idiota imitava os meus movimentos.
Por isso que a sala era totalmente simétrica.
Era por isso!
Para comprovar a minha hipótese levantei a mãe a acenei.
Sim... ela estava certa, ele fez exatamente a mesma cosia.
Como se fosse um espelho em 3D.
E agora?
Já que ele não era mais uma ameaça, olhei o aposento 360 graus procurando por uma saída.
Encontrei duas portas, uma era de onde tinha vindo, e a outra era pra onde iria.
Fui andando para a porta e com um pingo de esperança girei a maçaneta... Ela não abriu.
O garoto igual a mim fez a mesma coisa, porém ele tentou abrir a porta que eu vira.
E também não conseguira resultado.
Ótimo... Estava preso.
Me virei para aqueles sofás que junto ao cansaço me chamavam desesperadamente.
Com passos largos me joguei nele.
O garoto fez o mesmo só que no outro sofá, logo a minha frente.
No meio dos sofás, no meio do aposento... Exatamente no meio permanecia uma mesinha pequena.
Em cima dela, uma chave.
Meus olhos se arregalaram.
“Ótimo” pensei.
Estiquei minha mão e com um ato brusco puxei a chave.
E o que não esperava aconteceu. Aquele maldito segurava a chave do mesmo jeito que eu, e quanto eu mais puxava ele também.
Droga!

Bem... O que vocês fariam nessa situação? Eh.. exatamente isso que estou pensando também, desistir. Porém eu não sou desse tipo.
Eu não iria desistir.

 E então com a falta de sorte fui tentando de tudo para derruba-lo, ou para conseguir pegar a chave antes dele.
E adivinhem...  Sim... Eu não consegui.
“Woaw!”
E agora? Como saio dessa?
Ajudem-me por favor... Eu preciso passar por aquela porta.
Sim... Eu precisava.

Não me perguntem porque... Eu irei mentir, e como já disse antes, vocês sabem disso.

Coloquei as mãos no bolso, e para a minha infelicidade não tinha, nada, nada que pudesse jogar nele ou sei lá o que...

Olhei ao redor... Aquela sala não seria totalmente simétrica, seria?
Fui andando e analisando cada canto, cada teia de aranha, cada pedaço de madeira, cada coisa que pudesse algum dia existir naquele aposento.

E como imaginávamos: Nada!

Coloquei a mão no bolso, o idiota na minha frente fez o mesmo, porém ao tira-la a minha venho com um macarrão, e a dele veio segurando o nada. Sorri, ele fez o mesmo.

Corri para a mesa de centro, e com uma delicadeza incrível atravessei a chave com o macarrão, ele fez o mesmo, porém como não havia nenhum contato dele com a chave, ela foi comigo, enquanto a levava para a porta. Ri do tão obvio que era a solução. Ao chegar lá segurei a preciosa chave com as mãos, e com um ato glorioso abri a porta que tanto ansiava.

A porta se abriu, e uma sala escura e mal cuidada transpareceu por entre a brecha.

Graças a deus, nada simétrica.

Ao centro, amordaçada, permanecia uma jovem, talvez da minha estatura, seus cabelos longos e escuros estavam jogados por entre o encosto da cadeira em que ela estava. Suas mãos maltratadas e amarradas estavam prendendo-a a cadeira, que parecia pesar muito.

- Cheguei – Disse com meus olhos cheios de lágrimas. Me abaixei em sua frente desatando os vários nós que foram dados no pano em sua boca.
Ao tira-los ela respirou fundo, e suja por suas lágrimas que desciam sem para disse com uma voz dócil que eu mal conseguia lembrar.

- Obrigada.


Eu disse que o meu objetivo era nobre, e eu mentiria o que for preciso, faria o que for necessário para tira-la daquele lugar.

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