quinta-feira, 16 de maio de 2013

Lágrimas das nuvens

O momento em que uma família qualquer, dentro de um carro qualquer, sente um pequeno solavanco, e com a desculpa "não deve ter sido nada", do motorista, eles voltam a conversar tão normalmente quanto antes.
O momento em que você vê um rastro do tão conhecido sangue, vermelho, sendo erradicado cada vez mais sob o asfalto, por aquela roda emborrachada. 
O sol fritando aquela rua claramente mal feita.
O que você faria se olhasse pros lados e absolutamente ninguém sequer pensasse em se importar?
As pessoas simplesmente desviavam o olhar... Pois é mais fácil continuar nos seus afazeres, tão imensamente fatídicos , do que parar apenas um segundo para pensar numa razão daquilo.
Apenas um simples "porque?"
Será que a vida daquele pequenininho passou em frente aos seus olhos nos seus últimos segundos de vida?
Ou será que a mesma tenha sido curta o suficiente para que o vazio, e aquele gosto de ferro, tenha forjado os seus últimos tempos neste mundo?
E ao ver aquela tão misera e escrota cena.
Percebi o quão brutal somos.
Percebi o quão frio nos tronamos.
Percebi que, "A esperança é a ultima que morre", não passa de uma frase para tranquilizar o seu filho, de dois anos de idade, ao dormir baixo trovões um tanto quanto barulhentos.

Pois aqui estou eu, no ponto de ônibus... Perdido nos meus fones de ouvido, com um guarda-chuva pro alto enquanto escuto o som de todas aquelas lágrimas das nuvens caindo.
Com apenas um único e imbecil pensamento egoísta: "Onde será que está o meu ônibus?"

Pelo menos as nuvens choram, 
mesmo continuando tão frias.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O som de um vagalume

Aqui está ele, um menino, garoto ou homem, sentado em um balanço de madeira rustica, feito a mão, em frente à imensidão de um azul marinho praticamente negro. Enquanto um leve vai-e-vem constante do brinquedo dava movimento à noite, ele apenas olhava para o encontro, dos dois mais poderosos titãs, o Mar e o Universo. Uma linha tênue, praticamente imperceptível, permanecia separando os dois, talvez... se ela não estivesse lá, os dois gigantes poderiam acabar se destruindo, pouco a pouco, um ao outro, ou até, no melhor dos casos, se mesclando, se tornando um. Como seria interessante  ver as estrelas e constelações que tanto conhecemos, mergulhar sob a espuma das ondas?
 Enquanto ele, aquele menino, garoto, ou homem, se perdia neste tipo, tão esdruxulo, de pensamentos, não se deu ao luxo, de se deparar com mais duas presenças naquela noite.
Uma das presenças, a mais notória era uma menina, garota ou mulher, que usava um agasalho com a cor da mais bela das pétunias, caminhava, lentamente, com as mãos no bolso forrado,
- Não tá com frio? - Ela perguntou ao se aproximar de suas costas.
- Não - Respondeu deixando que o balanço parasse com o movimento de antes.
- Porque tá ai sozinho? - Ela esboçou um sorriso tímido, que, infelizmente, ele não pode ver.
- Pensando, apenas.
- Pensando sobre o que? - Sua voz mudou de tom.
- Nada.
- Diga - Mudou novamente. Seus braços se estenderam, em um abraço, pelos ombros dele, e logo depois despejados lentamente, para frente de seu corpo. Ela encostou a cabeça em seu ombro, e se apoiou contra as suas costas - Diga... - Repetiu.
- Como a noite é incrível, não é?
- É - Ela respondeu sem largar o abraço.

A outra presença, um pouco mais discreta, era eu. Estava parado, em cima de uma telha, observando aquelas duas crianças, aqueles dois adolescentes ou, até mesmo, aqueles dois adultos, que fitavam a imensidão desconhecida, e, aos poucos, percebiam o quanto a tinham para si.
Abri voo e fui planando até uma folha, ao lado do tão conhecido balanço.

- Olha... Um vagalume - Comentou ela apontando para um ponto brilhante, verde, no meio daquela escuridão. Ele olhou.
Eles sorriram.

Na posição em que me viam, parecia que uma estrela tinha acabado de invadir o mar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A Garota de calça rosa.


Um certo dia, uma certa noite. Um garoto perdido em suas próprias formas-pensamento permanecia sentado, arrodeado do tão famoso cemitério dos livros, com um exemplar de fábulas em mãos. Os seus olhos, mesmo demonstrando uma pequena e incerta tranquilidade, se dispersavam por dentre a livraria em alguns poucos momentos cronometrados, como se estivesse a espera de alguém que já era para ter chegado. Tinha terminado de ler a segunda fábula, quando o seu celular, no bolso, vibrou.
"chegamos, vá indo para lá já" - Era uma mensagem.
"Tô indo" - Respondeu antes de se levantar, guardar aquele livro, albino, naquela estante levemente empoeirada, e voltar a sua atenção ao seu redor.
Um ambiente silencioso, algumas pessoas perambulavam revivendo livros daqui pra ali, como se fosse um ato comum do próprio cotidiano dessa livraria. Com passos largos, depois de se dar conta do ambiente do qual permanecera, ele se dispôs a andar. Saiu do vasto aposento, e se deu contra o resto do shopping. Infelizmente, nesta cidade, as livrarias só se encontravam nessas tão representativas construções, que lembram mais o consumismo do que a qualquer outra coisa. Ao subir mais um lance de escadas rolantes, se deparou contra a uma pequena multidão completamente desordenada. Foi caminhando por entre ela até avistar um pequeno grupo, de apenas três pessoas, uma delas acenou pra ele.
E inevitavelmente ele sorriu.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O que vemos quando fechamos os olhos.

As vezes é bom chegar em casa sob a lua e compartilhar o que aconteceu baixo o sol, contar todas aquelas historias exageradamente belas e parcialmente fictícias, com uma gargalhada de lado a lado.

As vezes é bom dividir todas aquelas conquistas, aquelas glórias honrosas, aquelas perdas respeitadas e extrair das mesmas lágrimas baixo estrelas, ou dos mesmos sorrisos baixo trovões.

É bom apenas ter a certeza de que sob luas ou sob sóis, sob estrelas ou sob trovões, eu ainda poderei compartilhar minhas histórias, dividir minhas conquistas e extrair minhas lágrimas.
pois é você quem eu vejo quando fecho os olhos.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Uma nota para os demônios.

Estava no tédio das gotas de chuva que se alargavam por toda minha cidade, trancado no meu quarto, com as luzes apagadas, e aquele monitor de sempre flutuando no meio de toda aquela escuridão, quando um dubstep começou a tocar, bem de longe, vindo da rua amarelada pela noite. Uma música a essa hora me incomodaria, porém desta vez não o fez. Me peguei tocando as batidas com o pé, ritmicamente, até me levantar e dispor-me ao vento da janela numero quatro, do prédio.
um grupo de adolescentes bebiam e conversavam ao meio da pracinha, banhados sob as caixas de som, excessivas, de um carro, poucos metros distante da entrada da construção.
Normalmente reclamaria.
Não o fiz.
Metzli viu, sua presa olhando-a pela janela.
Metzli estava pronta para mata-la.
Um deles, uma garota, dançava sozinha de olhos fechados, fora do coberto, meio afastada do grupo. Seus cabelos molhados e escuros pela chuva contínua, desciam colados por suas costas até quase as nádegas.
Não sei quanto tempo passei ali, admirando tal cena sem sentido.
Se o limbo fosse menos colorido, pareciam ali demônios ao invés de homens. 

... Sim... Eramos Demônios DEMÔNIOS.... Mitzli é um demonio.

Qual a diferença dos dois? Homens e Demônios?

Metzli responde que é a sede por sangue....
Na verdade Mitzli não acha que há tanta diferença...

Há apenas uma coisa que eu sei, sobre essa relação tão fantástica.
Os Demônios, Anjos caídos, podem ler coisas que nós homens não podemos, coisas que foram escritas no mais profundo do limbo.
Despertei do transe, e desviei o meu olhar ...DE MIM, Mitzli, da garota que dançava, estava já me sentindo tonto, caminhei de volta ao meu quarto, desliguei o monitor ainda ligado, e me joguei na minha cama.
Ela fez um rangido de madeira velha.
Quando me virei, senti o colchão levemente molhado, - Devo ter esquecido a janela aberta - fui apalpando para sentir de onde vinha tal evento desagradável. e no meio de todos aqueles lençóis senti uma mão.

A MINHA MÂO, a mão de Mitzli.
Mitzli segurou  o pulso dele  com toda a minha força.
Vou puxa-lo para a janela....

Uma mão me puxou para a janela.
Quando o reflexo foi rápido o suficiente para me fazer abrir os olhos, me vi caindo, caindo do sorrateiro quarto andar, até aquela pracinha tão colorida ao dia.

Senti o cheiro de sangue...
Metzli gosta de sangue...
me aproximei do corpo caído, e comecei a deliciar-me de seu liquido vital.
como era bom 
No limbo não tinha essas coisas...
No limbo os homens eram apenas sombras em sépia.
Não.... Eu não dividiria com o resto deles, consegui seduzi-lo e mata-lo por mim mesma...
Era a  presa da Mitzli, de mais ninguém.

Apostei comigo mesmo, que não vi aquela adolescente dançando no meio da chuva...
e junto ao meu ultimo suspiro, deixei que os anjos me levassem...
Ao menos assim pensava...