quinta-feira, 19 de abril de 2012

Dominós.

Homem:
Ele corria agonizado, segurando em uma das mãos uma mala pequena e na outra uma maior, de rodinhas. Olhava para o relógio em seu pulso por segundo. Provavelmente estava bem atrasado.

Mulher:
Ela descanava lendo uma revista informativa, sentada em um do milhares bancos acolchoados do aeroporto.
- Voo numero vinte seis, iniciando a entrada de passageiros - Disse uma voz metalizada em todo o aeroporto.
Ela se pôs atenta, terminou o resto do parágrafo , colocou a revista em qualquer lugar e se levantou caminhando a porta de embarque.

Garoto:
- Pare com esse drama - Gritava uma garota para um garoto.
- Mas é que...
- Por favor, eu preciso parar pra pensar - foram as ultimas palavras que disse antes de bater a porta de seu quarto com um tanto quanto a mais de força.
O que restou a ele foi o que todos fazemos quando tristes, se deprimir ainda mais. Caminhando para o quintal pôs o fone, e começou a escutar musica, com um volume pouco exagerado, se jogou na rede, que se prendia a duas árvores, e se dispôs a olhar as nuvens. Simplesmente isso.



Homem:
Quase batia contra uma porta automática, não sei como.
- Pois não senhor? - Disse-lhe uma mulher naquele ambiente majestoso.
- Sim... Pode consultar se o Voo vinte seis ja saiu? - Ela parou um pouco olhando na tela do monitor.
- Sinto muito, mas, ele está decolando neste exato momento.
- Porra! - Gritou o homem furioso - Sinto muito - Continuou ele para ela, que por sua vez acenou a cabeça delicadamente.

Mulher:
Andando por dentro do avião, depois de entregar sua passagem para o assistente, continuou para os assentos vip, se sentou em seu numero, pegou a mesma revista de antes, abriu-a na mesma página e continuou para o parágrafo seguinte. O avião começou a decolar.

Garoto:
Ele acabou pegando no sono, e a musica alta o perturbava silenciosamente em seus sonhos.
Dormiu fingindo não escutar, de longe, a garota choramingando.

Homem:
Voltou para casa, destrancando a porta com uma das várias chaves que guardava em seu bolso.
Jogou sua mala pequena em cima do sofá de dois lugares ,com força, a outra largou no chão, ao lado do raque.
Despejou-se no outro sofá, o maior, dando com o controle ao seu lado. Pegou-o, ligou a televisão e foi assistir o primeiro canal que apareceu, o de noticias.

Mulher:
- Senhores passageiros... Apertem os cintos, e recolham suas bagagens para os lugares apropriados, estamos passando por uma pequena turbulência, mas não se preocupem.
Ela, que estava quase dormindo, se ajeitou e fez o que mandaram, um tanto quanto assustada.

Garoto:
Acordando silenciosamente, escutou alguns passos, passos tímidos e delicados.
- Ta acordado? - Perguntou uma voz fraca.
- Meio que sim - Respondeu ele sem ao menos se mexer.
- Desculpa - Sua voz falhou ainda mais.

Homem:
Ele, ainda furioso, ficou resmungando por muito tempo, pelo fato de não ter conseguindo pegar o avião, e ir ver sua filha, que estava doente, morando com a mãe em outra cidade do país. O noticiário começou com uma noticia estranha.

Mulher:
O avião começou a tremer loucamente, não posso negar que a vi apertando as mãos de um jeito traumatizante. Mas pouco tempo depois, ele se estabilizou, fazendo com que os passageiros suspirassem de alivio, ao mesmo tempo.

Garoto:
Ela se sentou na rede, ao lado dele, porém ainda não tinha olhado em seus olhos.
- É que eu tenho uma doença - Disse ela, praticamente sussurrando.
Ele não respondeu.
- Não sei se vou viver por muito tempo - Ela estava chorando.
- Desculpa - Ele também.

Homem:
Ele começou a chorar, não se sabe o porque.

Mulher:
- Senhores passageiros - Falou aquela voz metálica mais uma vez no avião, depois de faltar menos de uma hora para o aterrissagem - Estamos tendo alguns problemas técnicos, fiquem em suas cadeiras. Todos começaram a respirar de forma muito ofegante. Todos muito em estado de alerta. Até que uma criança grita. O tumulto do medo arranca cada coração puro de cada passageiro, o avião começa a esquentar.
A turbina de uma das asas, para subitamente.

Garoto:
- Um avião - Fala ela após um pequeno silêncio constrangedor.
- Minha irmã deve estar nele - Respondeu ele, que se esperasse alguns segundos não diria.
O avião explodiu.
Simplesmente Explodiu em milhões de fagulhas ao ar.
Como fogos de artificio, porém mais doloroso.
A garota gritou baixinho.
O coração dele palpitou.
algumas peças, maiores estavam caindo, e devorando algumas poucas casas.
Um pedaço da asa explodiu contra uma árvore perto dali.
E outro caiu, talvez muito perto.

Homem:
Alguns dias depois, quando ele está se preparando para pegar outro avião, pro mesmo lugar, o telefone toca.
- Senhor - Diz uma voz feminina do outro lado da linha.
- Eu mesmo.
- Sua filha faleceu a alguns dias em um acidente...
O telefone é desligado.

Mulher:

Garoto:
Alguns dias depois, o garoto no hospital, junto ao corpo, ainda vivo por causa das maquinas, da garota, está montando uma torre, com dominós, para se distrair, o seu celular toca esquizofrenicamente.
 - Senhor - Diz uma voz feminina do outro lado da linha - Sua irmã faleceu a alguns dias... Em um acidente de avião.
O telefone é desligado de imediato.

Os dominós caem no chão.
Simplesmente caem.

Muito tempo depois sua filha morre em um acidente de avião.

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