quinta-feira, 21 de julho de 2011

Caos

5:50

Pois bem... Iniciaremos o nosso relato nos apresentando a uma mulher, uma mulher comum, como qualquer, cabelos castanhos e ondulados, que batem um pouco abaixo dos ombros, pele clara, com algumas sardas e olhos escuros que deixam transparecer clareza e tranquilidade. Ela vestia um vestido empresarial cor de vinho nos demostrando superioridade, usava salto alto e caminhava por um corredor de cadeiras com uma maleta negra em mãos.
Chamavam ela de Helena. Que provavelmente era seu nome.
Só para constar: Ela estava dentro de um avião, que permanecia estacionado ao lado de fora do aeroporto, destinado a sair de salvador ás 5 horas e 55 minutos da manha e chegar á Madrid das 21 ás 23.
Aqueles assentos acolchoados, da primeira classe, repousavam listados em fileiras de dois em dois aos dois extremos do avião. Poucas pessoas estavam distraidamente sentadas naqueles assentos que na verdade assemelhavam-se mais com poltronas, ou até mesmo colchões dobradiços. A nossa protagonista, por agora, estava caminhando em busca do numero da poltrona que constava em sua passagem.
- Sessenta e quatro – Pronunciaram seus lábios em silêncio logo após dos seus olhos alcançarem aquele glorioso numero, bem encima daquela confortável poltrona.
- Senhoras e senhores, o voo será iniciado em cerca de cinco minutos, logo assim que for autorizado. – Uma voz metálica proveniente de caixas sonoras que estavam por todo lugar do pequeno meio de transporte – Por favor, sentem em seus assentos e coloquem os cintos de segurança.
Ela obedeceu.


5:51

Agora partiremos á observação de um homem, sim, um homem que não está dentro daquele incrível monstro de metal, porém está muito próximo a ele, em uma das portas do aeroporto. Cabelos curtos e escuros, cor da pele demonstrava que ele tinha tomado muito sol faz pouco tempo, até porque seu nariz estava um pouco despelando. Ele, Rafael, usava uma calça jeans e uma camisa social branca, um casaco de couro estava amarrado á sua cintura.
Ele entrou no aeroporto, e uma baforada congelante o fez estremecer, percebendo que não ia acostumar com aquele frio, desfez o nó das mangas do casaco e com um ato brusco se agasalhou com o mesmo, obviamente.
- Ultima chamada para o voo Salvador_ Madrid – Aquela voz de mulheres locutoras repercutiu por todo o ambiente.
E para finalizar, algo vibrou em seu bolso esquerdo.

5:51

- Mãe mãe – Disse um garotinho de nem mais nem menos 8 anos – Olha aquele homem! – Afirmou apontando com sua mão livre, a outra segurava um sanduiche, para um homem vestindo um casaco que entrava apressadamente no aeroporto conversando com alguém em seu celular.
- Para de apontar para as pessoas assim – Respondeu ela agressiva, dando um tapa em sua mão. O sanduiche saltou, e se jogou sorrateiramente ao chão, que brilhava por limpeza. O garoto começou a chorar.
- Ah não, nem venha com essa Diego! – A mãe daquele ser já estava quase gritando – Não me vai fazer passar vergonha enquanto esperamos a sua tia Sofi? Vai?!
A criança soluçava tentando acompanhar os passos largos de sua mãe.

5:52

- Não amor, não vou ir trabalhar hoje – Uma mulher coberta por diversos cobertores estava deitada na cama falando ao telefone – Sim... Estou bem, só com uma gripezinha de nada – Disse ela, contendo um espirro.
- Tá bem mesmo Van? – Pergunto ele.
- Sim, estou sim Rafa, acho que foi porque tomei muito sol ontem na praia.
- é pode ser, ontem agente ficou muito tempo na praia.
- Foi divertido – afirmou ela consolando-o – E um dos motivos para eu não ir é que o aeroporto faz um frio dos inferno.
- Faz mesmo, tô morrendo de frio aqui.
- Imagino.
- Certo, agora vou ter que desligar,
- Beijos, tchau.
- Tchau.
O telefone foi desligado.
 
5:53

- Sim senhora, o voo Salvador _ Madrid foi autorizado, já pode iniciar a decolagem – Disse um amador substituto na sala de comando á aeromoça que permanecia dentro do avião.
- Mas onde está Vanessa? – Perguntou ela desconfiada.
- Não compareceu por motivos de saúde, aqui é Lucas.
- Ah, certo – Respondeu a aeromoça – Terminarei os preparativos e iniciarei o despegue.
- Afirmativo.

5:54

- Maldito seja que jogou esse sanduiche aqui no chão! – Ela segurava um esfregão.
- Acalme-se Fê, esse é o nosso trabalho – Disse a outra colocando uma placa sinalizando: “Piso escorregadio, cuidado.”
- Mas sujou tudo de maionese e queijo! – Fernanda parecia revoltada – Eu tinha acabado de limpar aqui – Continuou ela esfregando o chão histericamente

5:53.

- Gerente? – Disse uma funcionária do aeroporto passando por umas portas de vidro.
- Diga Sonilha...
- Está faltando um comunicador no terminal um – A gerente afirmou com a cabeça.
- Acho que Vanessa pode ter levado.
- E ela não virá hoje?
- Foi substituída por problemas de saúde.
- Mas...
- Não se preocupe, ela mora a uns dez minutos daqui, logo logo mandarei alguém buscar lá em sua casa.
- Certo, muito obrigada.
- Por nada.

5:54

- Pedindo a autorização para pouso no terminal um – Falou do nada uma voz, que vinha de um comunicador parecido com um walk-talk em cima de uma mesa comum.
Se Vanessa não estiveste coberta por sonhos adormecedores ela escutaria essa voz que se repetiu por um bom tempo.

5:54

Senhores passageiros, estamos perto do aeroporto de salvador, por favor sentem-se e coloquem seus cintos de segurança – Marcus escutou a voz eletrônica de uma aeromoça. Ele estava vindo de São Paulo, e já agradecia por estar tão perto de seu destino, pois tinha passado mal a viagem toda. A sua esposa Sofia estava ao seu lado perdida junto a um sonho anormal, em que Morfeu a tomava nos braços carinhosamente.

5:55

Rafael andava pela parte de cima do aeroporto, um lugar restrito apenas para funcionários, um lugar que usualmente estava deserto.
Caminhava sorrateiramente com suas mãos presas a bolsos de seu casaco de couro, quando umas luzes chamaram a sua atenção. Uma atenção que ele não gostaria que chamasse.
Com um pulo ele se deu a correr. Seus passos iam descendo a escada de dois em dois degraus com uma velocidade incrível, se a famosa adrenalina não estivesse contaminando suas veias pode ter certeza que ele não lograria fazer nem parecido.
O vento transpassava por suas orelhas fazendo um ruído estridente, ele pouco importava.
Abriu a porta com um puxão, e se foi, com um passo atrás do outro, sem ao menos deixar a porta se fechar logo atrás.
Puxou o celular do bolso e começou a digitar alguns números.

5:55

As duas faxineiras tinha acabado de terminar seu trabalho, quando um cara agasalhado com o celular em mãos passou voando logo por cima do piso que tinham acabado de limpar.
Sim... Ele tomaria uma queda gigantesca.

5:55

O telefone tocou no máximo duas vezes quando Vanessa acordou com um salto, e atendeu sem mesmo ver quem estava na linha.
- Ei, alguém pediu autorização para pousar aqui agora? – Disse uma voz que ela conhecia, muito embolada.
- Rafael?
- Algum avião pediu autorização? – Disse ele mais embolado ainda.
- É o que?
- Um Avião! – Um grito – Pediu autorização para o pouso?
- NÃO – Respondeu ela nervosa, se levantando para olhar o comunicador.
- Tem certeza?
- Tenho... se tivesse tocado eu.... – Sua voz falhou. Pois vira no visor que tentaram conectar com ela três vezes em um único minuto – Sim... Três vezes... Rafa..... Amor?
Ela escutou um baque, e com um susto o telefone ficou mudo.

5:56

Destroços de um antigo celular estavam esparramados pelo chão molhado, e um ser com um casaco de couro inconsciente permanecia estirado no chão sem consciência.
As pessoas já se amontoavam ao seu redor curiosos e procurando por socorro.

5:57

Helena sentiu o avião começando a se movimentar.
Helena sentiu o avião cada vez mais rápido.
Seus ouvidos se taparam por conta da subida ríspida, ela fechou os olhos em pleno desconforto. E como se fosse obra do destino, várias imagens passaram em sua mente como se fosse slides se formando cada vez mais rápido. Ela reviu a sua vida inteira em poucos segundos, desde criança, até adulta, seu colégio, seu trabalho, faculdade, tudo, absolutamente tudo em apenas, sendo mais especifico, 8 segundos.
Seus olhos abriram, e um medo de morte invadiu suas narinas como o cheiro do sangue fresco.
Um grito foi escutado.
As pessoas teriam se apavorado se não fosse tão rápido.
AS pessoas teriam gritado se não fosse tão inoportuno.
O bico do avião se chocou contra o outro que estava na lateral, não deu tempo de esquivar. E se desse, a velocidade era tamanha que o avião voaria descontroladamente até o chão.
Uma explosão vermelha se fez devorando o metal quente.
E os gritos em silêncio das vitimas não foram escutados por nenhuma alma viva em todo o ambiente.

5:57

- Mãe? – Disse Diego, o garotinho de 8 anos – Escutou aquilo? – Perguntou ele – intrigante.
- Aquilo o que menino? – Berrou a mãe – Fica quieto até Sofia chegar!

5:58

E o sol nasceu como se estivesse enchugado por puras lágrimas de sangue que foram derramadas  pelo grandioso céu.

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