quarta-feira, 15 de agosto de 2012

5.

Uma música, pesada e pouco rítmica, tocava, alta, nos meus fones de ouvido enquanto o movimentar, em excesso, do ônibus me levava a uma sensação nauseante. Mas ali estava eu, sentado ao lado de uma cadeira vazia olhando pela janela perdido sob meus pensamentos em forma de sonhos, no meu cotidiano fatídico dia, quando, para minha surpresa, uma camisa branca se senta ao meu lado.

Uma garota.

Desvio o olhar um tanto quanto assustado, e percebo um rosto tranquilo e pálido olhando para suas unhas cor de rosa. Ela também estava perdida em formas-pensamentos próprios, tanto, que nem percebeu a minha notória observação.
Seus olhos brilhavam, como se estivessem segurando lágrimas já a um bom tempo.
Olhei para os lados, e o ônibus estava relativamente vazio. Porque ela teria de sentar logo aqui?
Ignorei o incomum ocorrido e voltei a minha atenção para a janela, e música.

"bip" - A garota abre a bolsa e pega o seu celular.
"1 mensagem não lida" - Brilha, flutuante, no LED daquele aparelho.
Ela aperta com o dedo na mensagem, e volta a sua atenção para a mesma.
A curiosidade, que já não me faltava, grita mais alto, e eu viro, imperceptivelmente, o meu olhar a aquela tela.
Seus olhos não conseguem mais conter as lágrimas guardadas, e agora, em vez de brilharem, são encharcados, fazendo-a em cair prantos e soluços tímidos.
Apertei os olhos, e com um certo espanto, fora-me permitido saber o que fizera aquela garota, tão tranquila, chorar em público... Mas eu sinceramente não entendi.

"5" - Dizia a mensagem... Apenas "cinco".

Ignorei, com um certo peso no coração, e voltei, mais uma vez, a escutar integralmente a música, que terminou logo em seguida, começou outra.
"bip" - Mais uma vez.
E como se fosse uma rotina, a garota pegou o celular, abriu a mensagem e ficou ainda mais agoniada.

"4" - Dizia ela desta vez.

Me encostei no encosto da cadeira, e fechei os olhos, sonolento.
"bip" - Mais um.
Ignorei por completo desta vez, provavelmente viria um "três", ou sei lá o que eram aquelas mensagens. Nem me dispus a abrir os olhos, porém, ainda permanecia com aquele peso no coração por ter alguém ao meu lado chorando, e eu não poder fazer nada sobre isso.
"Bip" - Outro.

"Bip" - Mais um ultimo, antes dela gritar em agonia.
Um único grito, seguido de soluços, como se estivesse prevendo alguma coisa que viria por vir.
Abri os olhos de imediato, e assim como todos os passageiros, mantive a minha atenção assustada nela.

- O que foi Senhorita? - Alguém teve a coragem de perguntar.

E ali permaneceu o silêncio do movimentar do ônibus, enquanto todos olhavam para um desconhecida da qual escondia o seu rosto, já encharcado, por entre os braços e pernas.

Poucos segundos depois.
Uma buzina desesperada foi escutada, seguida de um baque desenfreado.
E como se algo maior estivesse com pena da garota por estar derramando lágrimas sozinha, fez com que a frente do ônibus estourasse.
Uma implosão de ferro fundido e vidro.
Fui arrastado, loucamente, a frente por uma gravidade infinita, assim como todos os outros passageiros.
A parte traseira, subiu.
Me bati, tentando me segurar em algumas cadeiras, vendo aquela caixa retangular de ferro e fuligem explodir em sangue e fagulhas desordenadas.
Num mundo caótico em câmera lenta.
Vi aquela camisa branca sendo arrastada à explosão.

E então, por dentre o grito mental das pessoas , faíscas de fogo ao longe e lágrimas imaginárias derramando aos prantos por entre vidros, um celular repousava no asfalto límpido, um tanto quanto malgastado.

"1 mensagem não lida" - Brilhava, flutuando, na tela rachada, rosa e verde, daquele aparelho.

"0" - Apareceria desta vez, se aquela garota pudesse apertar naquele ícone tão convidativo.



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