domingo, 20 de maio de 2012

Monstros

(Se possível escute a melodia que está no final do post enquanto lê o conto, obrigado).

Você já correu para a cama de seus pais desesperado? Em uma noite que você realmente não conseguia dormir? Quando você tinha uns seis a sete anos, mais ou menos?

Você morria de medo de seres sobrenaturais, como por exemplo monstros?
Exato, aqueles mesmos monstros, que hoje, você nega com veemência a existência.
Você ainda acredita em monstros?
Parece uma pergunta um tanto quanto infantil, mas responda, pra você mesmo, com a maior sinceridade do mundo.

Você acredita neles?

É normal que com o tempo passemos a esquecer essa nossa parte mais criativa do nosso imaginário.
Substituímos essa parte por outras, que no momento parecem ter uma maior importância.
Bem... Isso não é errado. Muito pelo contrario.
Quando esquecemos, aos monstros criamos uma débil camada de proteção a eles.

Aconteceu comigo a uns anos atrás. Não lembro muito bem.
Eu tinha doze anos, e só pensava no colégio, nas matérias, nos exames e dentre outros assuntos afins.
Estava tomando banho, para ir dormir, meus pais com certeza já tinham ido, então me encontrava sozinho, com apenas a luz fraca do banheiro acesa.
Tinha terminado o banho já, só estava aproveitando a temperatura morna daquela água.
Quando eu senti uma mão em meu ombro.
Mas não uma comum, fora uma mão seca e peluda, com os dedos a mostra, unhas rasgadas e um cheiro fétido insuportável.

Instintamente quase gritei, mas quando me virei para encarar qualquer coisa que tivesse me tocado não tinha mais nada. Como se tivesse virado pó, como se estivesse brincando comigo.

Mas como toda criança de doze anos fala: "Deve ter sido uma impressão minha."
Ignorei essa estranha "impressão".
Me sequei com uma toalha, estendi ela no banheiro mesmo, me vesti e me dispus a andar para o meu quarto. Não nego que fiquei com medo.

Me larguei na cama e joguei uns cobertores sob mim, ajeitando-os confortavelmente.
Fiquei lá por um curto período de tempo, até apodrecer em um meio sonho.
Consequentemente, em um dos meus movimentos noturnos o meu travesseiro caiu.
Ainda possuído pelo sono, porém acordado o suficiente para controlar o meu corpo, eu abaixei o braço, tentando levemente pegar o distante travesseiro, que se apoiou sorrateiramente um pouco abaixo da cama.
Estava triscando naquela bolsa de penas macia em que dormia, quando aquela mesma mão que me lembrava remotamente saiu de baixo da cama e agarrou o meu pulso.
Eu Gritei.
Deu um jeito totalmente violento e sanguinário ele começou a apertar e a me puxar pouco a pouco pelo braço. Tentei me libertar de qualquer maneira, mas não conseguia. Simplesmente não conseguia fazer aquela criatura parar de me puxar para baixo.
Já estava quase caindo, metade do meu tórax já estava pra fora da cama.
E foi essa hora quando o meus pais abriram a porta bruscamente;
E foi essa hora que aquele maldito parou de me puxar.
Eles me tranquilizaram, conversaram comigo, escutaram as minhas explicações, me cobriram e ficaram comigo até que pegasse no sono de novo.

De tudo o que eles me falaram, eu só lembro de um pequeno trecho, que meu pai deu bem enfase:
"Você já tem doze anos menino, já está na hora de parar com esse medo de monstros".

De tudo o que eu vi, eu só lembro de um rosto sorridente, com dentes podres, olhos fixos em mim maiores do que maçãs. Mãos secas e peludas, tremendo com o aperto forte ao meu pulso.

Os monstros não podem serem vistos por quem não acredita neles. Eles não podem existir para alguém que não os possui em seu imaginário, por isso que boa parte dos adultos não os vêm, por isso que você não os vê. Já reparou? que há muito poucas historias sobre eles?, Isso é porque se alguém se lembrar, o suficiente para escrever uma, estará vulnerável, e provavelmente não conseguirá termina-la, provavelmente morrerá antes.

Então, pouco antes de dormir, se ocupe com os exames que terás na próxima semana, nas matérias do colégio, em seus amigos, em atividades de casa que você não fez, em sua família, em livros, em relações interpessoais, em sua aparência física, em animais, em jogos, em filmes, em "como foi o seu dia", em tudo... pense em tudo, menos neles. Se pensares neles caro leitor, estarás dando uma entrada grátis a um deles, para que possa aparecer para você, para que ele possa se mostrar em sua verdadeira face pros seus olhos, e finalmente para que ele possa te puxar ao submundo e se alimentar de sua alma.



Nenhum comentário:

Postar um comentário