quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Ladrão - Dragões de Éter

Um frio inevitável se estendia por toda Arzallum, fazendo com que as pessoas se trancassem no calor de suas casas, todas elas, menos uma. Uma que faria uma diferença enorme em nossa história. E aquele maldito agasalhado que andava dentre a solidão das ruas era nada mais nada menos que um ladrão.
- Desgosto – Pronunciou ele mentalmente, percebendo que o trabalho com esse tempo não ia faturar.
Olhou pra cima e avistou densas nuvens que cobriam toda a cidade, elas começaram a chorar, como se previssem o futuro, e as suas lagrimas despejaram sobre o Ladrão em forma de chuva, uma chuva fria que congelaria o mais brando dos corações.

E Sem duvida o fez.

O ser que repousava ali parado, e encharcado pela chuva resolveu que não iria perder um dia por culpa de uma estupida mudança de clima, escolheu um rumo, e se dirigiu a ele, foi caminhando dentre um campo de grama escura, que a sua direita tumbavam duas construções, escolheu aleatoriamente uma delas e se dispus a caminhar até a sua porta.
- Eii! – Gritou ele batendo somente duas vezes naquela porta de madeira que tanto conhecemos.
Ninguém respondeu.
Mais duas batidas na porta, e nada.
Quando o ladrão já se afastava para entrar a força, uma brecha foi aberta.
- Senhor? – Ele escutou uma voz feminina.
Ele se virou e como se fosse um ato do destino se deparou com Ariane Narin vestindo um capuz totalmente branco.
Com passos largos ele voltou para frente da casa com uma expressão maligna.

***

- Hiiahh – Gritou João enquanto atacava com uma espada de madeira o próprio Rinaldo Grimalde, o cavaleiro que havia treinado João nesses últimos dias, as espadas se chocavam com fúria, cada vez mais as lascas de madeira se esvaeciam pelo ar por culpa da força empenhada pelos dois. Com um golpe quase fatal Rinaldo acertou um pouco acima da sua cintura, fazendo o garoto se jogar ao chão não intencionalmente.
O ataque fora tão forte que João se largou esgotado ao chão.
- Já cansado Hanson?
- Um pouco senhor.
- Descanse, mais tarde continuamos.
João não moveu um musculo, ficou lá, sentindo fracas gotas de chuva que começaram se despejando do céu faz pouco tempo. Uma nuvem totalmente negra estava um pouco mais distante do céu que o pertencia, ele a estranhou.
- João – Ele escutou uma voz que o agradou, mas ao mesmo tempo fez uma chama de preocupação arder em seus olhos.
Era a voz de Ariane.

***

O ladrão com a maior força do mundo jogou a sola do seu pé contra a porta que Ariane segurava, fazendo a despencar junto com a mesma, e então ele pode ver o interior da casa, e junto ao desespero um grito foi silenciosamente abafado.
- Eu deveria ter escolhido a outra casa – pensou ele em voz alta.
Em sua frente se estendia acima do chão de madeira um pentagrama desenhado com sangue, e ao redor dele jazia corpos vivos de idosas e mulheres.
Todas olharam com um espanto inimaginável para o Ladrão, e o mesmo olhou exatamente igual para ela, só que seus olhos refletiam um certo horror.
- Bruxas – Pensou em voz alta mais uma vez.

***

Pedaços daquela grama negra que cobria todos aqueles campos de Arzallum voavam junto com o ar por efeito dos passos decisivos do filho dos Hanson, ele estava correndo, com sua espada de treinamento em mãos, ele nem teve tempo de larga-la, e nem de falar com o seu mestre que sairia, certamente receberia uma bronca, mas ele não estava nem ligando.
- Ariane... Sim, tenho certeza que era sua voz – Ele repetia essas palavras acreditando em sua intuição.
Aqueles passos largos descendo o morro e indo direto para a casa de sua amada, a preocupação tinha tomado conta de seus sentidos, e ele só pensava nisso agora.
- Por favor, que esteja tudo bem – Repetia consigo mesmo, desejando que dessa vez sua intuição falhasse.
Com um salto pulou do chão de terra coberto por grama para o solo firme que compunham as ruas da cidade, agora seus pés levavam o a solta pelos caminhos e atalhos da cidade, e finalmente chegando em seu destino, um pequeno gramado, onde uma casa jazia ao meio. A porta dessa casa estava arrombada.
Seu coração palpitou.

- Ariane? – Perguntou olhando para a escuridão do interior da casa. E afortunadamente viu, porém não percebeu, uma das piores coisas que se pode encontrar juntas, Bruxas e ladrões. Porém ele não tinha o conhecimento que aquelas mulheres eram bruxas e nem que o homem era o ladrão. E o mais traumatizante, ele não conseguia encontrar Ariane.
- Mais um para ser roubado – Disse o maldito.
- Mais um para o que? – Respondeu João sarcasticamente.
- Crianças.
 - Onde está Ariane?
- Ariane?
 - Onde ela está?
 - Ah... aquela menininha que...
 - Onde Está ARIANE!? – João apalpava a espada em sua bainha que estava costurada em suas costas.
- Ariane está no inferno – A gota d’agua. Sem nem pensar o garoto, que naquele exato momento parecia um homem levantou sua espada com um gesto incrivelmente rápido, e contraindo totalmente seus músculos fez com que a espada descesse com uma força vertical, o ladrão por sua vez se moveu lentamente para o seu lado esquerdo.
- Maldito! – Gritava o Hanson, cintilando de raiva.
A espada bateu em seu antebraço, que se levantou reflexivamente para a defesa de seu rosto, os golpes não cessaram, João despejava toda a sua raiva neles, um por um, e o Ladrão só fazia esquivar, e defender, como uma maestria de luta corpo a corpo inimaginável.
Hanson cometeu um erro...

Um erro mortal.

Juntando toda a sua força ele tentou um golpe horizontal, o ladrão sem nem piscar, pisou contra as tábuas de madeira, fazendo-o saltar, agora imaginem essa cena, a espada de treinamento de João passando por baixo das pernas contraídas do homem ao ar.
seus pés descem com uma força absurda, partindo ao meio a droga da espada de madeira.
O rosto do Hanson foi apavorador.
E com um único só movimento, o Ladrão retirou a espada de sua bainha e por fim atravessou-a o meio da barriga do garoto, cortando o ar com uma linha invisível.
Seu coração parou.

E suas pálpebras esgotadas permaneceram abertas.

“maldito” ele pensou um segundo derramar uma única lágrima por apenas um lado da face.

- Mais alguém? – Perguntou o ladrão, que agora parecia mais um assassino. As Bruxas se recuaram em um tom inofensivo, Ariane, que se encontrava ao meio delas estava paralisada, admirando a situação como se fosse um sonho... Digo... Um pesadelo. O pior que ela teve.
- Mas ALGUÉM? – Gritou o assassino ameaçando qualquer um que se opusesse a ele. As senhoras se afastaram mais ainda, deixando o pentagrama cor do sangue exposto totalmente.
O ladrão não sentia mais medo, ele sabia que como elas estavam apavoradas, clamando mentalmente por ajuda, não podiam fazer nada contra ele.

Um passo foi dado ao centro do pentagrama.

Um passo de uma menina indefesa.

Um passo de uma bruxa.

O passo de Ariane.

- Você? – Ele era arrogante.  Ela não respondeu nada, seus olhos estavam fechados, ela estava se concentrando, expirando e inspirando, constantemente, e então, como se fosse obra do criador ela abriu os olhos, e com isso, o pentagrama emitiu uma luz azulada, as janelas começaram a se partir em pedaços, uma a uma, e junto com elas os olhos do ladrão se arregalaram de puro medo.
Com um gesto único e rápido Ariane lançou uma bola em chamas, contra o seu alvo, e o mesmo foi inundado por uma explosão misericordiosa e única, ele sentiu a dor do inferno, seus olhos lagrimejavam por compaixão, ele sentia sua pele sendo corroída pela explosão que nunca acabava, e então o mundo passou a não ter som, por alguns poucos segundo que tardaram horas, e por obra da magia, em um único milésimo a explosão implodiu, e junto com o sangue da vitima que se alargou por uma boa parte da sala um corpo em chamas se despejou ao chão sem vida.
Ariane acordou de seu transe, seus olhos voltaram ao normal, e por fim percebeu o que tinha feito. Seu capuz estava umedecido pelo sangue de um desconhecido. O sangue de um Ladrão tinha tingido de vermelho... de um vermelho vivo.

- João? – Seus olhos choviam lagrimas misericordiosas e infelizes – João Hanson? – Sim... ele tinha partido.
Sem ao menos pensar ela correu em direção ao seu corpo, e agachou-se tentando inutilmente voltar a vida.

- Não conseguirás Ariane, o poder de trazer alguém à vida é desconhecido hoje até pela mais velha de nós, morrerás se fizeres isto.
- Mãe... – Ela chorava – Sem ele, não existe vida em lugar algum, é mais fácil salvá-lo 

somente a ele do que a todos. A senhorita Narin fechou os olhos mais uma vez, e permaneceu nesse estado por um tempo.
O tempo necessário para trazer alguém a vida.

O tempo necessário para trocar a vitalidade com alguém.
Ou talvez... o tempo necessário para fazer outra coisa mais.

***

Um frio inevitável se estendia por toda Arzallum, fazendo com que as pessoas se trancassem no calor de suas casas, todas elas, menos uma. Uma que fez uma diferença enorme em nossa história. E aquele ser agasalhado que andava dentre a solidão das ruas era nada mais nada menos que um ladrão, ou talvez... Algo mais.
Perto de lá Ariane vestia um capuz branco como a neve, junto com bruxas conversando sobre assuntos que agora não são relevantes para nós leitores. Ela parecia realmente preocupada, sabia que algo sobrenatural aconteceria nos próximos minutos.
Um pouco mais longe de lá, João Hanson treinava com o cavaleiro,sim, o próprio Rinaldo Grimalde em uns campos que rodeavam Arzallum. Uma gota de suor percorreu a sua testa, passando pelo nariz, parando em sua ponta... E por fim largando-se ela se juntou aos milhões de mundos que rodeavam aquelas partículas de ar.

O Ladrão foi caminhando dentre um campo de grama, onde em sua direita eram vistas duas construções, escolheu uma delas, só que dessa vez não foi obra do acaso, se dispus a caminhar até a sua porta.
- Ariane Narin? – Perguntou ele.
- Sim? – Respondeu ela receosa do outro lado da porta.
- A senhorita passou no teste.

Nem todos somos o que parecemos, nada é totalmente o que parece. As pessoas de um jeito ou de outro realmente conseguem nos surpreender, pois é... As nuvens nem sempre carregam tempestades Amigo leitor.

E o mais incrível, é que maldito ladrão era somente um Semi-Deus.

Um Semi-Deus como qualquer um.

Um Semi-Deus que se dispôs a testar a que se tornaria a mais poderosa das bruxas.

Um Semi-Deus que era conhecido com o nome...

Esse semi-Deus era você.

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