segunda-feira, 27 de junho de 2011

Correntes

- Porque?
- Porque sim – Respondi friamente – As coisas não se conseguem com essa facilidade.
- Mas...
- Aceite a sua perda – Um sorriso irônico se formou no canto dos meus lábios – Siga o seu caminho, e esqueça... Esqueça tudo de uma vez.
- Não!
- Já era, e você sabe... Aprenda a dar valor não só quando se perde.
- Eu...
- Você vai agora se despir dessas correntes.

- Eu N...
- Agora! Não quero ninguém choramingando aqui não.
- Eu não quero esquecer tudo! Não quero ter de me livrar dessas correntes! Desses laços! EU NÃO QUERO! – Sorri mais uma vez – E o que você acha tanta graça?!
- Todos falam a mesma coisa, mas você foi a que menos aceitou isso.
- Eu? Todos? Porque sempre tem de me comparar com os outros?
- Eu sou assim. É a única diversão que tenho aqui.
- Diversão?!
- Se se estiveres algum dia em meu lugar, saberás o porque, e me entenderas perfeitamente.
- Nunca.
- Algum dia terás de evoluir.
- Evoluir? Te consideras mais evoluído?
- Sim, e de fato sou.
- Porque você é tão imbecil?
- Porque já me livrei das correntes que me prendiam, já me livrei dos laços que me enforcavam, já me livrei do meu coração que me atormentava.
- Ham?
- Eu já me livrei da minha alma senhorita. Estou livre.

- Você acha que se livrar do coração é uma coisa boa?
- Pois quando se consegue milhares de outras coisas em troca, sim... acho.
- Que coisas? – Percebi uma sutileza, já esperada, em sua vez.
- Coisas mais alucinantes que um simples coração que lhe dá sentimentos, algo tão forte quanto laços, algo tão brilhante quanto varias almas juntas. Você aprende que as coisas anteriores eram muito materialistas, muito minúsculas e insignificantes, Você aprende o quanto bom é a vida, porém não significa muito, não é algo tão complexo quanto é aqui.
- Como?
Toquei levemente em sua mão, e ela pressionou seus dedos com uma força incrível na minha.
Sorri.
- Pronta? – Pronunciei um pouco antes dela assentir.
Empurrei sua mão, junto com ela, para cima e as correntes que antes esfolava seus tornozelos se jogaram no chão soltas como uma pluma.
Pela primeira vez um sorriso abriu seus lábios.
- Obrigada – Seus lábios falaram sem voz.
- Ao seu dispor – Cumprindo novamente com meu papel de matar, sorri mais uma vez com o canto da boca.

Ah, lembrem que a Morte não possui apenas uma diversão, mas sim uma a cada alguém que aparece em sua frente.
A cada corrente que se parte.

Pois cada um é diferente.

Pois cada um é único.

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