segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sussurro

O sussurro de uma rajada de vento transpareceu sobre mim. Estremeci. Em meu ombro esquerdo havia uma camisa vermelha, usava calça jeans azul escura, e uma das abas da minha mochila repousava no ombro oposto da estava a camisa. Andava sob o sol das oito da manha em uma estrada de terra, rodeada por algumas casas e árvores aleatórias. Minha expressão permanecia fechada enquanto minha mente vagava pra longe, pela musica,  fones de ouvido saíam do meu bolso e seguindo o cabo elas terminavam em meus dois ouvidos, dentro do bolso a luz da tela do meu celular brilhava marcando duas ligações perdidas, eu não tinha conhecimento disso.
Eu não tinha conhecimento de inúmeras coisas.


Alguns carros levantavam poeira ao passar, outros não. Em um daqueles carros eu tinha jurado ter visto um rosto conhecido, porém não me preocupava com isso, não estava com muita vontade de ter de parar para falar com pessoas, não mesmo.
Vesti a minha camisa enquanto subia  a ultima ladeira e depois de uma pequena curva me deparei com o portão entreaberto, ao lado tinha alguns botões cobertos por uma pequena grade , não prestei atenção neles digo... Somente em um, o numero 4. Apertei-o e esperei alguns milissegundos.
- Alô – Disse uma voz feminina.
- Sou eu – Respondi.
- Pera que já abro.
O portão já estava aberto, passei por ele e fui contando as casas até chegar à que seria o meu destino.
Lá, na frente da porta estava um garoto, parado, talvez somente um pouco mais velho que eu. Ele estava de costas. Ao escutar os meus passos ele se virou, reconheci-o de imediato. Fazia um bom tempo que eu não o via, mas seu rosto em minhas lembranças ainda não tinha se esvaecido junto ao vento.
Ele era o meu melhor amigo.
Sorri. Ele não.
O seu rosto demonstrava preocupação.
O seu rosto queria me dizer algo, que o próprio o impedia de fazer.
O meu punho se formou. As veias da minha mão se realçaram.
Lembrava bem muito dessa preocupação.
Lembrava tão bem que já escutava as palavras que nunca sairiam de sua boca.
Nossos pensamentos eram os mesmos.
Fui me aproximando lentamente, larguei a minha mochila à gravidade e com um baque surdo ela se chocou contra o chão de britas.
O vento parou de sussurrar, talvez para assistir a cena, talvez não.
O meu sorriso se foi.
E o dele apareceu. Não foi um sorriso comum, ele transparecia preocupação e não felicidade. A preocupação por um dia ter jurado.
Dei mais dois passos,  e já estava cara a cara com ele. Levei o meu braço para trás, e logo depois, como um golpe assassino levei-o para frente com uma velocidade incrível, acertou-o em meio de sua cara. Ele meio atordoado recuou alguns passos levando a mão ao rosto. Dentre os seus dedos uma faísca de sangue escorreu pelo seu nariz.
As minhas pálpebras se abriram, dando lugar a minha pupila, que se contraiu.
Enquanto os primeiros raios de sol atravessavam as brechas de uma janela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário